sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Folha preenchida


Folha preenchida
Coisa pequenina a gente guarda com a gente e conta depois que a gente cresce. Daí vira coisa grande, lembrança saudável e bonita, dá até artigo de revista. A gente se lembra, e começa a perceber as miudezas que fazem parte da nossa história. A parte mais cheirosa da nossa infância, mesmo que não seja o mais aprazível dos odores. A parte onde conjugamos o verbo em tantas pessoas quanto foram os nossos amores. E eu me lembro do quintal da minha casa. Das galinhas que meu pai tinha. Das manhãs onde os ovos eram colhidos. E lembro-me dos meus amigos de rua, das brincadeiras e das partidas.
E me lembro da cesta de basquete que meu pai colocou na parede para mim. E me lembro de descer as escadas escorregando na caixa de papelão. E lembro-me da minha irmã e do meu irmão e de como adorávamos ouvir a mesma música tantas e tantas vezes. E me lembro dos meses onde a mesa estava cheia de frutas, e de quantas perguntas a minha avó respondeu para mim. São dias assim que me fazem escrever. Fazem ser.
E das coisas pequenas há tantas que a gente faz questão de reviver. Comer mangas com as mãos, arrancando com os dentes as cascas das frutas. E das várias, das muitas vezes que só observamos a nossa mãe e tentamos aprender a fazer. E a pergunta se torna única: eu fiz valer? Os abraços da minha mãe? Os livros que meu pai trazia da banca? Os panos de prato que pintei com a minha avó? O crescer ao lado de outras crianças?
O mundo é das pequenas letrinhas, das palavras que a gente escreve e deixa como recado. E entre apertos de mãos, nas manhãs frias de cafés quentes, eu, diante da imensidão da existência, sento, escrevo e digo... Obrigado. Viver é único. É sagrado!

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