Folha
preenchida
Coisa pequenina a gente guarda com a gente e
conta depois que a gente cresce. Daí vira coisa grande, lembrança saudável e
bonita, dá até artigo de revista. A gente se lembra, e começa a perceber as
miudezas que fazem parte da nossa história. A parte mais cheirosa da nossa
infância, mesmo que não seja o mais aprazível dos odores. A parte onde
conjugamos o verbo em tantas pessoas quanto foram os nossos amores. E eu me
lembro do quintal da minha casa. Das galinhas que meu pai tinha. Das manhãs
onde os ovos eram colhidos. E lembro-me dos meus amigos de rua, das brincadeiras
e das partidas.
E me lembro da cesta de basquete que meu pai
colocou na parede para mim. E me lembro de descer as escadas escorregando na
caixa de papelão. E lembro-me da minha irmã e do meu irmão e de como adorávamos
ouvir a mesma música tantas e tantas vezes. E me lembro dos meses onde a mesa
estava cheia de frutas, e de quantas perguntas a minha avó respondeu para mim. São
dias assim que me fazem escrever. Fazem ser.
E das coisas pequenas há tantas que a gente
faz questão de reviver. Comer mangas com as mãos, arrancando com os dentes as
cascas das frutas. E das várias, das muitas vezes que só observamos a nossa mãe
e tentamos aprender a fazer. E a pergunta se torna única: eu fiz valer? Os
abraços da minha mãe? Os livros que meu pai trazia da banca? Os panos de prato
que pintei com a minha avó? O crescer ao lado de outras crianças?
O mundo é das pequenas letrinhas, das
palavras que a gente escreve e deixa como recado. E entre apertos de mãos, nas
manhãs frias de cafés quentes, eu, diante da imensidão da existência, sento,
escrevo e digo... Obrigado. Viver é único. É sagrado!
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