Caipirar
A vida é porteira aberta, fazenda
mundão. A gente é que põe cerca, faz ser pequeno, do tamanho da nossa mão. Logo
adiante, no mesmo instante que os olhos amanheceram, se fez serenata fora de
hora para o clarão que alumia minha alma caipira. E eu decidi escrever.
Escrever sobre as miudezas
que fazem a vida ser imensidão. Por isso, caipirar é ter um dedinho de prosa,
um chamego, um tiquinho de assossego, e, quando der vontade, fazer serão.
Acocorar-se na cerca mais próxima, esperar o tempo passar para passar logo
adiante. E levantar o desejo de que a descoberta venha assucedida de outras
imperfeições ortográficas e gramaticais, onde se diminui o que já é diminutivo
pra mor de caber na gigantesa do coração. Pode não ser a norma culta, a coisa
bem escrita, mas é a tramela da vida, num vai e vem de ontem, hoje... Tempo do
ainda não. Miudeza a gente é, som de viola chorosa, dedinho de prosa, tiquinho
de assossego, serão...
Eu sou tão Luiz quanto meu
avô, tão luz quanto o cheiro de rosas da minha avó. O gosto da meninice dos
meus dias. Sou a poeira no rosto, o mato que cresce e toma conta, sem dó. Não ser
pequeno, insignificante. É ser miúdo, coisa de uma nota e só. Que nem dá para
substituir, trocar por outra qualquer. Afinal, a árvore só se agiganta se antes
tiver sido semente, a gente só é a gente se for pequeno para ter cabido no
ventre de uma mulher.
Do resto, vira e virá
imensidão. Porteira aberta, fazenda mundão. E daí a gente pula a cerca e faz do
horizonte o logo adiante. Fim nunca. Fim não...