sábado, 28 de março de 2015

Ajuíza

Ajuíza
Você nem precisa de muita coisa
Para fazer tanto assim
É só ouvir uma porção de músicas
Que você cai em mim

Diz que eu sou boniteza
Das riquezas
A mais exclusiva e agigantada
Quiçá uma pedra valiosa
Joia rara
Contemplação!

Vê se toma tento, seu menino!
Sei muito bem onde terminam seus versos
Essa junção de palavratório escrito
Essa exclamação!

Sei mesmo
E não me diga que não
Para dizer que o poema ficou divino
Você sugere um verso conjunto
Escrito a quatro mãos
No dedilhar dos nossos ouvidos
A transpirar pelo colchão...

sexta-feira, 27 de março de 2015

Caipirar

Caipirar
A vida é porteira aberta, fazenda mundão. A gente é que põe cerca, faz ser pequeno, do tamanho da nossa mão. Logo adiante, no mesmo instante que os olhos amanheceram, se fez serenata fora de hora para o clarão que alumia minha alma caipira. E eu decidi escrever.
Escrever sobre as miudezas que fazem a vida ser imensidão. Por isso, caipirar é ter um dedinho de prosa, um chamego, um tiquinho de assossego, e, quando der vontade, fazer serão. Acocorar-se na cerca mais próxima, esperar o tempo passar para passar logo adiante. E levantar o desejo de que a descoberta venha assucedida de outras imperfeições ortográficas e gramaticais, onde se diminui o que já é diminutivo pra mor de caber na gigantesa do coração. Pode não ser a norma culta, a coisa bem escrita, mas é a tramela da vida, num vai e vem de ontem, hoje... Tempo do ainda não. Miudeza a gente é, som de viola chorosa, dedinho de prosa, tiquinho de assossego, serão...
Eu sou tão Luiz quanto meu avô, tão luz quanto o cheiro de rosas da minha avó. O gosto da meninice dos meus dias. Sou a poeira no rosto, o mato que cresce e toma conta, sem dó. Não ser pequeno, insignificante. É ser miúdo, coisa de uma nota e só. Que nem dá para substituir, trocar por outra qualquer. Afinal, a árvore só se agiganta se antes tiver sido semente, a gente só é a gente se for pequeno para ter cabido no ventre de uma mulher.
   Do resto, vira e virá imensidão. Porteira aberta, fazenda mundão. E daí a gente pula a cerca e faz do horizonte o logo adiante. Fim nunca. Fim não...

quinta-feira, 26 de março de 2015

Grávido!

Grávido!
Sou gestante incontido
Parturiente do verso e da prosa
Grávido de muitos filhos
De uma gestação que não é minha
É nossa!

Sou parturiente de papéis atrevidos
De quem tem olhos e ouvidos
No coito do lápis com o papel
O rabisco fértil
Que engravida até de um dedo de conversa
De uma gestação que não é só minha
É nossa!

E acabo concluindo
Que esses meus filhos
São rebentos pequeninos
A rasgar o tempo e a história
A palavra é mesmo o registro
Do que se guarda na memória
... a poesia é apenas a forma...

segunda-feira, 23 de março de 2015

Ao ouvir Wagner

Ao ouvir Wagner
Para os meus pais, que me deram ouvidos para ouvir. E um coração para escutar!
É canto!
Encanto lacrimejante!
Os deuses tocando em suas costas
E dizendo:
Segue adiante!

A vida é mesmo assim
Intensa e instante!
A orquestrar dos dias
Em um deslizar alucinante
Ouvindo o tempo se arrastar
Pelas mãos nos cabelos que clareiam e caem
Viver é contagiante

A vida é poesia
O mergulho do Sol e da Lua
A chuva na rua
Viver, por si só
É inebriante...

sábado, 21 de março de 2015

Antes do lápis se encontrar com as mãos

Antes do lápis se encontrar com as mãos
Uma parte de mim
Está no espaço que ainda não sou
Mas serei!
Verso escrito
Riso, choro
Risco, rabisco
Ponto final ou travessão
É um mergulho sem piscina
Náufrago sem mar nem ilha
É quando o lápis caça as mãos
Minuto-mergulho
Respiro antes da criação...

sexta-feira, 6 de março de 2015

Descaipirando

Descaipirando
O sotaque já é outro
Quase exala os rincões paulistanos
Agora é na beira do viaduto
Na beira do rio só de vez em quando
É uma metamorfose urbana inaudita
De um barro que nem suja mais os pés
Misturada com uma vontade bonita
De pisar na grama
E correr por entre os varais