quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Pedaço-Todo de mim

Pedaço-Todo de mim
Logo chega outubro. E fará um ano que você partiu. E o silêncio de uma das casas da rua de todos nós nos dá a certeza de que você existiu. Minha vovó!
Faz alguns dias que eu sonhei com você. E eu nem me lembro bem. Mas era algo de grandioso. Como a vida o é! Vida essa que toca as baladas de um tempo que não recua. Só se adianta. E faz a saudade se agigantar. Não me tome como um incômodo. Eu só queria te visitar. Mais uma vez!
E sentar ao seu lado. E pegar na sua mão. E dar aqueles beijos molhados, ver a senhora sorrir. E comer do seu lanche. Se esbaldar com o seu macarrão. E, mesmo que por um instante, driblar o destino, abusar da decisão. Decisão que não é nossa, mas que nos acompanha.
 Hoje, vó, eu passei a tarde de pijama. Que a minha esposa não me escute, mas vou fazer isso outras vezes. Porque assim eu vou me lembrar da meninice que se veste nos dias de rancho, na beira do rio. Descendo pelo barranco. Sendo você!
Hoje eu me sentei diante de tudo que me faz ser e continuar. E fiquei com uma baita vontade de ir até a janela e gritar: "SUUUUUUUUUUUUUUUNTA". Assim, quem sabe você me escuta enquanto eu desenho e invento no silêncio meu e da Carlota?
Logo mais eu me ajeito. Logo mais vou me ajeitar. Hoje o lenço é o travesseiro. Hoje eu só quero te abraçar...

Cada pedaço de mim é alguém que eu amo muito! Você consegue me escutar?

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

É menino



É menino
Nasci menino
Apesar de querer ser gavião
"Mãe, se a gente morrer nasce pássaro?"
E ela disse que não

Nasci pequenino
E pequeno permaneço diante da imensidão
Nesse palco de bailarinos
Me vejo sapatilha no chão

Nasci meu pai
Minha mãe
Meus irmãos!
Nasci sorrindo...
Sorrir é divino
Nascer é descortinar a amplidão

Sabiá destemperado



Sabiá destemperado
Canta antes da primavera chegar
Passarinho assanhado, seu moço
Nunca vi gostar tanto de namorar
Eu, que vivo aturdido,
Pelos mesmos sons e dilemas
Desanuvio, meu amigo
Ao lhe ouvir cantar
Declamando o seu poema

Desde os tempos mais antigos
Na mata, na serra
E no capão
Sabiá é o passarinho
Que convence o inverno a abrir caminho
Trazendo a primavera
E com ela
O verão... 

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Constância



Constância
A esperança no amanhã
Anda a alumiar o que é de hoje
Meninos e meninas na ponte
Na passagem do tempo terçã

Os devaneios naufragam
E deságuam em um vertedouro em mim
Aos tilintares de querubins
Eles simplesmente deságuam
E são assim
A esperança é a constância
De que os sonhos não podem ter fim...

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Eu na escola

Eu na escola
Não é de ouro
Nem de barro
Nem de chão
É de tudo isso
É coração

Não tão simples
Nem tão difícil
Muito menos não é
É tudo isso
É fé

E não é nunca
Talvez hoje
Um dia
O dia!
Amanhã!
É mais do que tudo isso
É o meu divã... 

Das indagações da Marilice

Das indagações da Marilice
A criança que chega
A onda que vem
"Faz tempo que você não escreve
O que acontece, meu bem?"

A chuva que se aproxima
A mala e a imensidão
"Você perdeu o lápis
Ou se cansou da mão?"

Os cabelos da Tata
Os passeios com o Enzo
"É só você sair da toca
Que os verbos vão desaparecendo?"

E eu saio atrás de novas folhas
E o tempo traz novas palavras
A água no corpo com areia
É o grafite na folha molhada
Graças aos deuses que existem julhos
Para que assim possam existir
Novas jornadas