quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Inquietude


Inquietude
Vou caçoar das minhas imperfeições,
Sentir-me normal e esquisito.
Vou dialogar com o infinito
e ficar de cócoras para as situações.
E quando já se aproximarem,
 na correnteza dos dias,
as auroras e os clarões
vou fechar as cortinas
e desfilar meus palavrões

Depois de hoje


Depois de hoje
A incredulidade
É um destempero
Que anda a me temperar
Desde a ausência do barulho
Da porta que não se abre mais
Até os olhos de tantos
Que não querem mais enxergar
Eu me pergunto
Falta quanta para acabar? 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Para o Rodrigo


Para o Rodrigo
As cortinas se fecham
Em um silêncio profundo
E perturbador
Tanta dor
E o silêncio da porta
Que não vai mais se abrir
Eu procuro respostas
Meu amigo,
eu ainda moro aqui

sábado, 27 de outubro de 2012

No aeroporto

No aeroporto
Fael, haverá um dia em que saberei escrever as minhas melhores aventuras com você!
Então, publicarei um livro. 

A bola está murcha. Quem vai encher dessa vez? É como se não tivesse mais ninguém na rua. É como se fosse a última, mesmo sendo a primeira vez. Olhe, não quero ver você assim. Sorria, sorria para mim. Meus braços estão aqui. Dê-me um abraço antes de partir. Feche esse livro, me conte do seu novo trabalho. Sou o seu amigo. E sei que algo está errado.
Não quero falar. É meu e de mais ninguém. É franco, sem simulações. Ficou difícil esconder de alguém. Quero uma turma de amigos, uma companheira para namorar. Quero sair também dos trilhos. Ser jovem antes de me cansar.
É claro que tudo será resolvido. Logo, logo. Você verá. Os temporais terminam, alvoradas irão chegar. Troque de lugar comigo. Eu quero dividir o seu mal estar.
É impossível. Está comigo. E tem coisas que nem a mãe da gente consegue solucionar.
Então, abra um sorriso. Logo, logo o avião vai decolar. Vamos encher a bola juntos. Vamos jogar.
Não quero. Prefiro ficar mudo. O silêncio e a consciência são irmãos do desconforto da alma?
Não mastiga a sua culpa. Se é que ela existe, vamos compartilhar. 
  Melhor partir para outra pergunta. Os meus olhos estão mais envelhecidos. A última foto só fez revelar.
Hoje eu chorei de culpa. Como eu posso te ajudar? Troca de lugar comigo. Eu quero aprender a andar com as suas pernas. E tropeçarei nas minhas desculpas, nesse orgulho que eu adoro carregar. E depois que tudo ficar água limpa, saberei como te ajudar.
Tchau, agora eu vou viajar.  

Banco de praça


Banco de praça
- Qual é mesmo a sua graça? Quer dizer, seu nome?
E daí a gente começava a prosear, sentados em um banco de praça, sem hora para ir embora, deixando o dia ficar. Ficar comprido, como o arco-íris lá no céu. E assuntávamos sobre o mundão das coisas grandes. E das pequenas também, daquelas que cabem em um pedaço de papel.
- Quantos anos você tem?
E daí, no vai e vem das pessoas nas ruas, comentávamos das aventuras que ainda gostaríamos de realizar, daquele lugar que a gente viu na TV e quer muito visitar. E depois assuntávamos sobre as músicas que os nossos rádios não param de tocar. E abraçávamos com ternura as certezas e os amores que gostamos de carregar. E, de um conforto de colo de mãe, riamos por estar.
- E amanhã, do que a gente vai conversar?
E deixávamos o assunto para o próximo banco decidir. Porque ninguém está aqui para ficar só de ouvinte. A gente gosta de falar. Dividir o nosso mundo. E é tão gostoso quando tem mais alguém para escutar. A gente encomprida o assunto, incorpora a voz, faz cara de coisa séria, e começa a desfilar. E surgem perguntas, parece que a coisa toda realmente é importante. E daí, a gente se pergunta: quantas foram as vezes que sentamos e experimentamos se sentar e ouvir mais um instante?
- Foi um prazer ouvir você falar.
E amanhã, talvez nesse mesmo momento, mesmo que seja por um instante, haverá uma espécie de cumprimento, tão fraterno quanto o enroscar das mãos da gente.
- Sabia que você me faz ficar contente?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Quem sabe um dia...


Quem sabe um dia...
Levitando pela sala
Caminhando pelos horizontes
Podendo usar saias
Não tendo medo
De parecer pedante

Comendo pelas beiradas
Usando o que só julga importante
Podendo guardar sapatos
E calçar sandálias
E abraçar quem aparecer na frente

Quem sabe um dia...
Talvez, quem sabe?
Tudo então será tão intenso
Quanto um instante... 

Acalmia


Acalmia
Todo mundo
Tem uma tia chamada Maria
E uma vontade doida de voar
Somos tão parecidos
A ciência
Nem precisa nos clonar

Todo mundo gosta
De subir no degrau mais alto
De desfilar seus sucessos
Mesmo que só esbravejem protestos
Prá que ser modesto
Quando tem
Tanta gente que acredita
Naquilo que a gente adora alardear?

Tesouro meu


Tesouro meu
Tesouro meu
Carnaval fora de época
Desalinho das minhas certezas
Desmonte das coisas concretas
Que hora você volta para casa?
A porta está aberta

Tem um bolo sobre a mesa
O suco na geladeira
Não seja tão discreta
Faça barulho prá eu escutar
Aí, me levanto
E corro para te abraçar

Tesouro meu
Quando é que você vai chegar?
Eu destranquei as pieguices
Escancarei meus desejos
E, no segredo dos dias
Só quero ver você voltar

Tem um recheio de beijos e abraços
Meus passos
Na direção dos seus
Tesouro meu
A que horas você vai voltar? 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Hoje não


Hoje não
- Escreve aí seu moço. A gente precisa das suas letras.
- Hoje não dá não. Elas estão todas guardadas no estojo. Estou sem ideia na cabeça.
- Mas não é você o escritor? O sabichão de todas as letras?
- Hoje não sou eu não. Não vale a pena gastar a tinta das minhas canetas...
- Mas os interlóquios, os entretantos, os poréns e os senãos?
- Hoje não. Estão tímidos, recatados, de mãozinhas dadas, no fundo do meu colchão.
- Mas justo agora. O porquê eu quero saber
- Não tem porque. Eu só não quero escrever. Quero guardar comigo. Quase nunca ninguém me lê, por que agora pedem para eu escrever?
- Mas serão só umas vinte, trinta linhas. O que é isso para você?
- É o vermelho sangue das minhas tintas, no desalinho da cinta da ideia. O silêncio é o barulho mais ensurdecedor. Fale isso pra ela...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Janela aberta


Janela aberta
Meu canarinho
Passarinho arredio
Que fugiu da minha gaiola
E ninguém viu
Em uma manhã de tantas feiras
Que Maria até estranhou
Passarinho arredio
O céu azul você ganhou

Meu sanhaço
Furta cor
De um azul amor que é só meu
Cantou e cantou tanto
Que parecia até um disco do Alceu
Em uma tarde de tantas canseiras
Que nem o sofá suportou
Levantando a inquietude
Ninguém sabe do meu suor 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Barganha com o tempo


Barganha com o tempo
O destino toca um sino
Que ouvido nenhum consegue escutar
Faz ir embora o menino
E o tempo maroto avançar

Como mensageiro do vento
Sem ter hora nem momento
Alaga projetos pueris
E carrega sentimentos

E de pronto se escuta
O vento gritando vida
Carregando consigo a certeza
De que somos eternas perguntas

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Conversa boa


Conversa boa
Ouvir você falar
Contar as suas prosas
É tomar caldo de cana
É coisa gostosa

Ouvir você dizer
Das coisas que Deus faz
É ter certeza do adiante
De que não existe adeus
Só “até mais”

Sentar-se do seu ladinho
É degustar do seu tempero
É deitar-se no travesseiro
E ficar ouvindo os passarinhos
O dia inteiro
E nada mais!

Minhas muitas vezes você

   Minhas muitas vezes você                                           
   Do cadarço que não amarrei bem, da toalha que ficou dobrada. Do copo que não enxaguei, do barulho que faço, da minha algazarra. Tudo tem um pouco de você, nas minhas muitas vezes em dizer: eu quero mais. Mais cadarços desamarrados, mais toalhas molhadas, mais copos não enxaguados, mais barulhos no silêncio das nossas tardes e madrugadas. Porque assim você sempre, sempre irá lembrar-se de mim, irá lembrar-se de olhar para mim.
   Do lanche que eu fiz para você, do vestido que você acha que não vai servir, dos cabelos que você insiste em arrumar, dos lugares onde você mais gosta de ir. Tudo tem muito de você, de você em mim. Mesmo que você não veja, é como a engrenagem que faz meu corpo não parar, movido por palavras, melhor, poemas, que as mãos fazem questão de criar. E eu quero mais, além da dose necessária. Trafegar pelas estradas da vida, tendo você como única parada. Porque assim eu sempre irei lembrar-me dos gostos e de como é gostoso ter você, sentir você perto de mim. Minha melhor parte, o todo que ninguém calculou, um olhar-me nos olhos teus, sentido o seu cheiro em meu corpo.
   Dos motivos que eu te dou, da inspiração que você me traz. Do melhor do que você já pensou, daquilo que só você faz. Um tratado onde existe um infinito chamado amor, quintessência dos mortais. Dos diálogos que só o nosso quarto gravou, dos capítulos de um livro com mil finais. Tudo tem você, você e muito mais. Das coisas mais simples que você já fez, das mais intensas que você me faz. Porque ninguém escreve melhor a palavra amor do que as suas mãos a me pedir mais. Ser melhor, ser vivo, capaz, minhas muitas vezes, muitas vezes mais. Minha parte plena e única, minha grande-pequena. O melhor dos meus poemas!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Canto vivo


Canto vivo
A filosofia do sabiá
É cantar antes de o sol raiar
Assim, 
espanta a tristeza
E acorda o vizinho
Antes de o despertador tocar
E suplanta
O barulho do viaduto
Com o chamar muito mais bonito
Que traduzido ao pé da letra
Significa...
“Passarinha, é primavera!
Venha namorar comigo”











Imagem extraída do sítio mocapaluliteraturaearte.blogspot.com

Entre as 13:00 e 18:00


Entre as 13:00 e 18:00
Fazendo o arroz e o feijão
E me lembrando de você
Minha pequenina
Receita boa de viver

Dobrando o lençol
Varrendo a cozinha
Me pego imaginando você
Minha estrelinha
Desejo meu de ser

E saindo depressa
Com vontade
De tanta coisa fazer
Levando no bolso uma listinha
Escrita por você

E em cada linha
A vontade de te ter
E o recadinho
Guardado comigo
No final escrito está
“Zete”

Meu jardim


Meu jardim
Papel roseira
Vai dar flores este ano?
No canteiro das minhas bobeiras
Como pode existir um rosa branco?

Arando o papel com as ideias
Plantando possibilidades
As linhas tão retas
Presumindo igualdade?

Planto por necessidade
Sem a perspectiva de vender minhas roseiras
Quem quiser
Que entre no meu jardim
Colha, distribuía
Coloque na casa inteira...

domingo, 14 de outubro de 2012

Aperto de mãos


Aperto de mãos
Solitário não
Nem quando estou sozinho
Sempre enroscado em suas mãos
Você é meu passarinho
Que voa adiante
E faz cada novo horizonte
Ser lindo
Divino!

Solitário não
Nem quando eu deixar só um recadinho
Você é uma espécie de devaneio
Meu “estar juntinho”
Que faz cada dia ser sagrado
Ser divino
Lindo!

Circunstâncias


Circunstâncias
- Prá ele não! Mande para mim. Eu sei como se faz. Eu consigo resolver.
- Mas veja bem. O passarinho que cantar. O que eu posso fazer?
- O silêncio é segurança; você sabe o que eu quero dizer...
- Então vamos abrir a gaiola. Permitir que pudesse ser. E o que ficará desta história é a necessidade de entender. Entender que nem toda massa dá bola. E nem de toda pimenta se faz o molho.
- Mas você compreende? Ou terei de me explicar?
- Que nada! Já entendi tudo. Essa faixa, o meu rádio não irá mais tocar.
- Está certo então. Não preciso me alongar.
- Claro que não. Se for para o bem, que mal há?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O milagre de Isa


O milagre de Isa
“Professor, não vou precisar operar”. E ela sorri e quer me contar. “Professor, eu estou tão feliz”. E ela me faz acreditar. Não há palavras. A gente tem mesmo é que escutar. Pensar que a leveza é forte, que a fé é sempre mais forte. E daí, mesmo que a gente não perceba, está lá, onde sempre deveria estar: uma coleção de gestos que simbolizam que a gente veio para aceitar, perdoar, amar.
Eu fico tentando absorver tanto brilho, amor pela vida. É contagiante, único, lindo. Não há outros parâmetros, é apenas sincero. Existem coisas que são maiores do que as palavras, do que textos e poesias. É a alegria, alegria de quem nos faz repensar, olhar para o espelho, querer se abraçar. E o milagre não é só de Isa, não é de Isa. O milagre é Isa. O milagre é poder compartilhar. Isa nos opera todos os dias, a todos nós, distribuindo amor, alegria, VIDA...

Minha linha


Minha linha
Com o elástico da sua calça
Eu puxo e faço uma tiara
Você de saia
Vira a minha barraca
E com o feixe do seu zíper
Eu levanto a nossa casa

Com as suas presilhas
Eu prendo você em mim
E com as mangas da sua blusa
Eu estendo um lençol sem fim

E daí a gente se deita
E deixa nossas roupas no criado mudo
E o mundo
Nos veste de uma só certeza
É tão gostoso se apaixonar

Sacolas plásticas


SACOLAS PLÁSTICAS
Nuvens de polietileno
Espumas citadinas
Somos todos recicláveis
A nossa validade é que é curta

Sacos natalinos
Nas filas dos mercados
Somos todos tecnológicos
Embalamos até nossos pecados

Depois vêm aquelas cestas
Abraços apertados
Somos tão momentâneos
Chegamos até ser engraçados...

Os dedinhos da sua mão


Os dedinhos da sua mão
Eu vou escrever canções
E vou me lembrar de você
Eu vou acalentar as suas ilusões
Eu amo tanto você
Minha figurinha repetida
Que eu não troco com ninguém
Meu single de horas
Meu ir mais além
São os dedinhos da sua mão
Eu quero você tão bem... 


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Janeiro que vem


Janeiro que vem
A próxima viagem
Que a gente junto fizer
Eu vou comprar só a passagem de ida
E a gente volta quando der

Vou vestir as minhas camisas
E desfilar pelos cantos do mundo
E dizer tantas coisas prá você
E dizer que você é tudo
É minha mulher

Meu roteiro favorito
Minha trilha de descobertas
Meu pacote sempre em promoção
Quarto de hotel de porta aberta
Viagem pela amplidão
Descoberta!

Carina entenderia...

Carina entenderia…
Andando de mãos dadas
Caminhando sem tropeçar
Esperando a hora exata
O momento certo
Para contar

Andando por ruas tantas
Gastando os sapatos novos
Ouvindo a manhã que se levanta
Esperando mais um pouco
A hora certa
O momento exato
Para falar

Sem medo
Sem achar que não pode ser assim
Esses meus companheiros
Ninguém os vê
Mas eles estão aí
Estão sim…

Homo lápis caneta


Homo lápis caneta
Sou uma compulsão incrível
A fome da letra.
Sou insaciável.
Sou a minha caneta.

Sou o discurso
O improviso
O desenho na minha camiseta
Sou o verso mal escrito
A vontade de escrever tudo tão depressa

Sou os meus discos
Meus quadros na parede
Sou a culpa
E a falta de juízo

Sou a dor na consciência
Sou o dedo no interruptor
A vontade de puxar o fio da tomada
Sou o diagnóstico do doutor
E escrevo
Para continuar sendo nada...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Abrindo os cadernos


Abrindo os cadernos
- Senta aqui um minutinho. Serei breve e imediato. Você só precisa de carinho. O médico te passou o remédio errado...
- Mas é que eu ando tão sozinha. Sem vontade de nada fazer...
- Senta aqui! Só um minutinho. Prometo que você não vai se arrepender...
- Mas é que me ensinaram desse jeitinho. O meu certo, é o errado para você.
- Não, não tenha medo, nem um pouquinho. Só por tentar você já começou a ser...
- Ser o quê?
- Mais viva, atenta. A ouvir a experiência divina que é viver. A gente cresce como os ramos da plantinha. E dá flor nos momentos de alegria.
- Você e suas figuras de linguagem. Por isso tanta poesia.
- Não sei o motivo. Mas é que a vida é tão pequenina. Eu não quero passar sem mexer...
- Mexer com o quê?
- Com a intensidade da luz em suas retinas, com a possibilidade de trocar a sua tristeza pela mais vívida alegria...
- Você distribui remédios?
- Eu me medico quando você sorri. Quando existe a reunião do ouvido com a boca, quando a palavra encontra a folha...
- Não à toa, faltam papéis para você escrever...
- Que nada... Ainda tenho as paredes...

Visitas inesperadas


Visitas inesperadas
Tempestades se aproximam
Vou desfilar bravatas
Gritando as minhas angústias
Que estavam entaladas

Escute o estrondo dos trovões
Balançando as coisas da casa
Vou desfilar sermões
Que estavam ensaiados

E depois
Que toda a água estiver empoçada
Vou gastar a tarde inteira
Desentupindo os ralos