quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Fruto maduro

Com o tempo a gente esquece
Precisa mesmo esquecer
Deixa cair dentro da gente
E se perder
Eu nem me lembro de mesmo que dia é hoje
Nem mesmo quem é você

Com o tempo a gente se veste
Perde a inocência
E deixa de ver
Eu nem me lembro de que a tristeza cresce
Na mesma medida que eu me esqueço de dizer
"Quem sabe um dia pode ser"
Quem sabe?

São essas as coisas que fazem de um poeta
Um constante não ser
Não ser letra
Palavra e nem dizer
A gente é só mesmo extensão de um planeta
Que orbita sem saber
Quem sabe?
                                                            Escrever esvazia a gente.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

¡Felicidad!

Yo no te miro
Por la ventana del pensamiento
¿Dónde estás?
¿Es solamente momento?

Entonces, yo te busco?
Como ave rara en un cielo gris
¡Vivir es corto!
¡Alegría és triz!

Y las cajas se vacían
Y los exámenes se acumulan
Todo parece tan oscuro
Siento miedo de ser feliz ...


sábado, 9 de dezembro de 2017

Le "mot-être"

Quelle langue parlez-vous?
Qu'est-ce que tu ne peux pas oublier?
Quel mot explique ce que tu es?
Faites-vous semblant de remarquer?
Le mot-être!

Vous plaisantez vraiment!
Peu importe si les gens vont comprendre!
Même parce que
Il y a des choses qui sont plus que des mots!
Ils sont l'essence de l'être!

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Anseios natalinos

Anseios natalinos
Toda essa canseira
Só pode indicar o fim
Olhe bem!
Olhe bem para mim!
Não preciso de compaixão
Já tenho a minha medicação
E cada vez me estranho mais
Sou alguém em partida
Deixando palavras para trás
Exéquias!
Estou a sua procura
Simplesmente não quero mais...
Nunca mais!

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Entre uma caixa e outra

Entre uma caixa e outra
Que roupa vestes, tristeza?
Qual música gosta de escutar?
És surda, calada?
Sabe perdoar?

Eu sou desatino
Desalinho!
Vontade e perdição
Sou pedacinho
Contradição

Que dores sentes, tristeza?
Qual a sua forma de manifestação?
És retinta, relapsa?
Sabes não dizer não?

Eu sou cristalino
Na turbidez da multidão
Se for para voltar
Quero voltar passarinho
Para voar longe
Bem longe do chão...

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Vovó Virgínia

Vovó Virgínia
Muitas foram às vezes que me assuntei com a minha avó Virgínia para falar de coisas que eu nem sabia ainda que estavam por vir. E no meio de cada palavra pequenina que ela dizia, ouvia minha avó acontecer! Se abrir, como quando a gente abre um livro e se põe a ler. Minha avó pintava panos de prato. E tinha flores em quase todas as suas roupas. Um livro ser!
Lembro-me bem do jeitinho menina da minha avozinha, e das histórias que contava do seu tempo de moça. Lembro-me quando ela me disse de um dia que ficou enovelado por tanta fumaça que existia na olaria. E de como era miudinha! E de como tossia. E do medo que tinha do que viria a ocorrer. Às vezes eu percebia que minha avó tinha medo de morrer.
Lembro-me de ter assuntado com a avó Virgínia sobre o que eu queria ser. E ela ouvia, sem muito dizer. Devia é mesmo pensar: "coisas de menino. Com o tempo haverá de amadurecer!". Minha avó Virgínia, das tintas e dos pincéis. Ela guardava meus papéis, poesias que escrevi, sem ao menos eu ainda nem saber segurar na caneta. Minha avó era meio um planeta. Desses onde habita a certeza de que a vida é leveza diante da rigidez temporal.
Muitas foram às vezes que me sentei próximo à minha avó. E passava os desatinos das minhas tardes de menino sem perceber o quanto a avó da gente está para nós como os momentos mais felizes que a gente pode ter. Curtos, intensos, partem sem a gente querer.
Dessas coisas que escrevo, desse jeito que eu sei escrever, muito da vovó Virgínia está nos meus verbos e versos. Tanto, que eu nem dizer. Hoje, sou homem com alguns cabelos brancos, vovó, nessa alva calvície que insiste em crescer. E lembro-me, no silêncio do meu pranto, o quanto eu pude curtir você. Assuntando assentado ao seu lado, nesse conjunto do pincel com o pano de prato. Ai de mim se não houvesse avó Virgínia para eu aprender. Ai de mim! Talvez hoje o papel não estivesse tomado de palavras e lágrimas. Talvez eu não estivesse tomado dessa vontade de dizer...
Vale a pena, tem que valer! Tem que valer!

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Preciso escrever mais sobre você

Preciso escrever mais sobre você
Hoje é tão cedo
Nem deu tempo de amanhecer
A gente está aqui já faz um tempão
De verdade, o que de melhor pode haver?

Chego mesmo a pensar
Que o passado é um prato
De que se serve o presente
Sem medo de não se satisfazer

Nesse paladar conjugado
É mesmo a gente
Só pode ser
E entre um verbo e outro
Eu percebo
Que preciso escrever mais sobre você...

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Reticências

Reticências
Não posso cair
Não agora
Está tudo tão confuso
Tem mais alguém lá fora?

Eu mesmo que fiz o embrulho
Desculpe, foi de última hora
Ainda está tão escuro
Você vai mesmo embora?

Velaste-me enquanto eu ainda vivo
Esteve aqui, e sem demora
Levaste-me consigo
Para onde o esquecimento mora

É tudo tão bonito
Feche os olhos e abra as portas
Ninguém houve esse chiado
Ninguém realmente se importa

domingo, 15 de outubro de 2017

Calma... Uma hora acaba

Calma... Uma hora acaba
Sou página de livro
O todo não cabe em mim
Já há traças comigo
Anunciando meu fim

Vou morar sozinho
Na casa de um cômodo só
Deitado e retinto
Serei pó

Sou apenas um risco
Nem mesmo uma palavra
A filologia do meu nome
É prenúncio de coisa errada

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Da escola de onde eu vim

Da escola de onde eu vim
Que me perdoem os insensíveis
Mas ser professor é descobrir-se mais
Porque gente não vem com manual de instruções
E por mais que a gente tente
Custa mesmo desbravar

Se um desses pequenos
Vierem a me perguntar
Com o par de olhos míopes que tenho
Haverei de confessar
"Seja professor! Vale a pena arriscar!"
Precisamos desses que nos querem
Que querem mesmo tentar
Veja bem, não é uma visão confusa!
Algumas coisas o par de lentes não repara!

É dessa escola que eu vim
Edifiquei-me lá
Vivi os anseios e desejos do Rafa
Na luta dos meus pais em abrirem as portas
Se eu acredito em algo que justifique a minha existência
Esse algo está dentro de uma sala de aula

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Produto perecível

Produto perecível
Para que chorar toda essa tristeza
Que, de tão grande, não cabe mais em você?
Somos todos perecíveis
A hora chega
E você nem vai saber

Tenho cá minhas certezas
Precisamos delas para viver
Somos produtos mesmo nessa prateleira
Nosso lote não é para sempre

Então, extravase!
Suje a mesa
Faça acontecer
Tire a tampa em frente à terapeuta
Esparrame-se pra valer

Ninguém fica com o pote
Só note que eu também não ficarei
Somos mesmo perecíveis, minha princesa
Para viver
É necessário acontecer!
... Já disse hoje que eu amo você?

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Manhã de sábado

Manhã de sábado
Sou dotado de muitas patologias. E quem não o é? Nessa sequência de heresias, viver é, por si só, poesia. Ventre de mulher.
Amanhã, Juliana, vai ter pão de padaria. Café, e nós dois assim, felizes. Verso escrito. O café esquenta meus verbos! Sou seu caderno, minha mulher lapiseira. E toda a canseira, vira um festival de alegorias. Pão pela manhã é poesia. No calor das suas pupilas, a perseguir os olhos meus. Minha metade mais linda. Meu inteiro que aconteceu. Você é o pão quentinho das manhãs, a receber manteiga derretida... Tão eu!
Amanhã é sábado. E eu vou te costurar no pijama que eu insisto em tirar. Quero me vestir de você. Pães sobre a mesa, a servir sutilezas. As mãos a dividir os talheres, e meu Y intimida-se diante de um X que tenho e não nego. E tanto mais sincero! Sou seu gosto de quero. Hoje, amanhã, pra sempre! Eterno! Minha alegria, fantasia que não quero tirar. Amanhã é manhã de sábado.
Logo mais, vamos almoçar.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Abraço, meus braços

Abraço, meus braços
Não posso chorar
Se eu não sentir também
Eu quero mesmo é perguntar
Se você está bem
Porque a vida tem dessas coisas
Viver é se sentir alguém

Eu ando pelos olhos dos meus amigos
É lá que procuro abrigo
Onde eu me encontrei
E eles se molham comigo
Porque a vida tem mesmo dessas coisas
A gente pode ir muito além

Eu só tenho mesmo os meus braços
E uma porção de abraços
Que eu nem sei se caberão nesse pedaço
De papel que eu arranjei
Porque a vida,
a vida tem mesmo dessas coisas
Dessas coisas...

E isso eu sei

terça-feira, 12 de setembro de 2017

A noivar

A noivar
Minha alma é badalo
E eu não me calo
Nem quando em silêncio
Porque faço da palavra escrita
Meu balbuciar pensamentos
Eu escrevo mesmo com essas tintas
A culpa faz parte dos sentimentos
Minha alma é menina
Esperando o dia do casamento

domingo, 10 de setembro de 2017

Dona Tristeza

Dona Tristeza
Respeito a tristeza
Pois ela é dona de notória reverberação
Fala pouco
E diz tanto
Dessas coisas que saem do papel
E caem para dentro do coração

Dona Tristeza nasce com a gente
Para que a alegria venha nos visitar
Habita na rua do verso bem escrito
Na casa que só faz rimar
No número infinito
Jardim de letras

Quem escreve
Sabe e não nega
A poesia é terra
Onde a tristeza faz questão de morar
Eu moro e morro nela
Sem medo de chorar

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Sinais abertos

Sinais abertos
Nem de perto
A gente sabe o que vai ser
Nascer é sinal aberto
Andar é viver
Eu não conduzo esses anseios
O medo também é passageiro
Quiçá eu chegar inteiro
E esperar o sinal fechar
A rua das minhas lembranças
É onde habita a minha casa
Onde quem me viu
Irá morar

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Olhando para baixo

Olhando para baixo
Sou liberto
Você é que não entende
Para mim, não existe o certo
Muito menos o depende
Sou risco no seu caderno
De quem a angústia descende
O tempo é reflexo
Sou o resto
Você é que não entende
É essa matéria
A palavra transcende
Sou protesto
De um medo que vem
E de repente...

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Entre a mente e o coração

Entre a mente e o coração
Vou escrever para mim
Um texto desse tamanhão
Para que caibam todas as palavras
Que andam escorregando pelas minhas mãos

"Doutor, vou confessar o que ando fazendo
Boicotando a medicação!
Chega dessa química complicada
Preciso mesmo é simplificar a equação"

Passam as tardes retintas
Nada de ser calatrão
Mente rameira minha
Escrever é divagação

"Camila, conceda-me mais vinte minutos
A terapia não permite não!
Norma por mim instituída
Sou eterna interrogação"

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Fármacos letrados

Fármacos letrados
Padeço de uma doença
Não queria que fosse assim
Talvez você nem perceba
Mas tenho excesso de mim

Alguém que não cabe nos dias
Que se extravasa em poesia
Cheira à heresia
Excêntrica patologia

De tratamento desconhecido
Escrever é comprimido
Levando às reticências...

Padeço de uma doença


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Na casa da Sunta

Na casa da Sunta
Não cabe pergunta
Que avó não saiba responder
Mesmo que ela invente a coisa toda
Afinal, inventar é viver

Eu também sou inventeiro
Não inventor!
Porque eu cozinho o que a minha cabeça inventa
Para que a coisa fique retinta
Com um toque de pimenta
Com pétalas de flor

Depois, amostro pra Sunta
Vovó-menina
Que foi adoçar lá mais adiante
Num distante
Em um instante,
haverei de chegar

E será, então,
de novo a casa da Sunta
Casa de brincar
Casa da pergunta
Que não encontra uma só resposta
Que a gente insiste em visitar...

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Lápis-Juliana

Lápis-Juliana
Espaço caminha
Um gole de vinho
Ninguém sabe ainda
Mas me sinto tão sozinho
Quando você não está aqui
E isso
É saber resistir

Espaço da linha
Certeza indagação
Ninguém imagina ainda
Mas eu sou lápis na sua mão
Quando você escrever a rima
Apresentar-me-ei como refrão

domingo, 16 de julho de 2017

Duas esferas brancas

Duas esferas brancas
Por vezes, me visto de alegria
Como se alegria fosse uma alegoria
Para cativar os olhos seus

Veja bem,
há problemas na transmissão de serotonina
Definindo quem sou eu

Mas a caixa está logo ali
E o copo na pia
Eis o dolo meu

Então, nada mais do que malas vazias
Padeço de rebeldia
O tempo me prescreveu 

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Nós para gente

Nós para gente
Não escreverás carta alguma
Nem se lembrará de quais são os números
Nada que possa indicar,
mesmo que por um segundo
O desenho das suas mãos

Não são juras
Não é isso!
É que, desnaturado e absoluto,
Olvidaras o que é o perdão

De cá e de lá
Tanto quanto mudo
E, se muito foi,
Pouco terá sobrado, então
Como a espécie de um fio curto
Que liga nada
A nenhuma estação

Do que serves,
pobre reduto
Reduzido até o chão?
Deduzo eu que, na vida,
A gente é risco curto
Como para a frase do mundo
Um travessão...