sexta-feira, 23 de março de 2018

Ego hyperbole!


Mansidão
Pedacinho de chão
Seu colo mais eu
Em um tempo de Narcisos
Quero morrer sendo seu Orfeu

Bazalquianas as minhas lembranças
Fazendo seresta para receber seu corpo
De tudo um pouco
Nada fica no lugar
Quero mesmo é ser seu Orfeu
Tristão e Isolda
A namorar

Ando literato, isso é fato
Não tenho nem como esconder
Sou Fabiano, bicho do mato
Quando não a tenho para olhar
O resto é retrato
A gente figura melhor
Em um tempo de ingratos
Agradeço aos deuses por você estar

sexta-feira, 16 de março de 2018

Cheiro de goiaba


Os caminhos que percorro são como letras de um texto que parece ter sido escrito há tempos. Visito os verbos, rearrumo o sujeito, e nem por isso é pretérito. Nem mais do que perfeito. É a vida. E a vida tem cheiro.
Hoje os meus passos me levaram ao encontro de um cheiro tão meu, da minha meninice, do tempo em que o verde era espaço e não pedaço. Onde o quintal era extensão, não ilusão. Em uma confusão de ontem e hoje, goiabas nos galhos das árvores e no chão. Em meio ao chiado do trem, o ronronar das feras de metal, como se um pote da geleia mais gostosa que alguém poderia ter feito estivesse aberto. E tão perto! Eu quis escrever!
Todo jardim é um manifesto, pedaço de sonho em um mundo concreto. As árvores são beatas certezas diante de uma constante crueza. De um mundo que se acinzenta, das pessoas que se esquecem de que a gente é fruta na árvore, esperando o dia da colheita.
E aquele cheiro quase que me fez chorar. Porque ninguém tem compromisso em ver que entre a grade e o trem, o trabalho e o asfalto, existe um pedaço que grita... Grita e cheira: vida!
Se bem pudesse, tomaria o cheiro para mim. Guardaria como uma moeda da sorte. Em meio a esse concreto morte, pedaço verde apareceu. E as árvores todas cheias de cor e cheiro, de fruta, outrora flor. É, Deus existe sim. E aparece nos pedaços onde o orar é silêncio. O ciclo delicioso. Do rebento broto, do fruto, do gosto. Adiante tem a estação!
E a fruta cai no chão. E o pássaro come. E a minha saudade mata a fome do quintal da casa dos meus pais. E das ruas por onde normalmente não ando mais. E no meio desses milhões, encontrei um pedaço que é mais. Meu demais.
Um cheiro que molha a boca da memória. Que me faz reviver histórias. Que me faz lembrar que a gente também é fruta nessa vida. E que as sementes dessas glórias, tomadas nos percalços de um mundo inodoro, são como encontros de uma história que é divina por estar no seu estado mais simplório.
Desses pés que se ajeitam e nos lembram, mesmo que por um momento, que a gente pode até ser outro alguém. Mas sempre seremos aquilo que nos faz bem.
Sempre!



sexta-feira, 2 de março de 2018

Julianar


Até de pijama
Você fica beleza
Sem ele...
Leveza

Ah esse seu cheiro
Eu me esmero
Em ser seu beija-flor
Vou levar meu travesseiro
Pra junto do seu calor

Que caiam todos os meus cabelos
Minha cabeça é espaço seu
Vejam todas essas palavras
Foi meu doido desejo quem escreveu...


quinta-feira, 1 de março de 2018

Para as minhas avós

Sonhei com você
De olhos abertos
E a tive tão perto
Que quase cheguei a abraçar
Como se os braços fossem laços
E a lembrança fosse se materializar

Estranha mesmo essa existência
Onde a gente aprende a se acostumar
Viver é, por si só,
A experiência
De escrever em uma folha
Que o tempo insiste em apagar
Sorte que há tintas que marcam e ficam
Que nem mesmo o enxague temporal
Consegue levar...