terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Nas asas da Sunta

Nas asas da Sunta
Canta, não resmunga
Avoa, e avoa bem!
É o passarinho Sunta
Fotografo ele também

Sai tinindo
Devagarinho
Desse palco dos mortais
Pra deixar o céu mais retinto
E a saudade aumenta mais

E a gente, pequenino
Dá vontade de chorar
Ô Sunta, meu passarinho!
Se achegue
Pra eu lhe apertar

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Recordações

Recordações
Respirar, até partir
Se inspirar, antes de ir
Caminhar, antes de cair
Voar, antes de ser chão

Amar, antes de seguir
E seguir dando as mãos
Dizer olá, antes do adeus
E dar adeus com o corpo e com as mãos

E ser vontade de ser feliz
E ser feliz à vontade
E ser você de verdade
Em uma coleção de recordações

É assim que eu carrego você comigo
Vovó querida
Driblando a saudade e o tempo
Senhores dos mandriões...

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Vovó me visitando

Vovó me visitando
É quando eu escuto música bonita
Quando pego um papel
E saio desenhando
Quando a sorte me cutuca
Quando meu pai está me abraçando
DaÍ, eu grito
Grito bem alto
"Sunta, você está me visitando!!!"

É quando eu sinto a palavra
Vir antes da ideia
A alegria ser sincera
O amor, fraternal
Daí, eu proclamo
Em uma alegria sem igual
"Vovó, você veio me ver
Que legal!!!"

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Avoar

Avoar
Ô passarinho ligeiro
Que na minha não quer parar
Sun´cê deve se chamar é Vento
Que o tempo traz
E nos faz largar
Ou se chama Vida
Essa vida que o tempo insiste em nos tirar

Ô cantador de verso e prosa
Vê se me remoça
Pra mais tempo eu ficar
Andam me dando quarenta
A cabeça a branquear
Mal sabem que os meus fios são avoadeiros
Caem para eu estar em todo e qualquer lugar...

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Nas lentes do tempo

Nas lentes do tempo
Foi ao acaso
Como diz Sêneca
Que a vida traçou seu destino
Esse acaso da vida
Nos dedos de um menino

Foi ao acaso
O acaso da vida
Que eu te registrei
Antes da partida
Os olhinhos fechados
Transcendendo ternura

Foi mesmo sem querer
Mas querendo muito que fosse assim
Você sendo você
Uma das pessoas mais importantes para mim
Os olhos brilhando
Na imensidão das nossas aventuras

Ao encostar dos rostos
O gosto de saber que eu curti você
Meu verbo no infinitivo
Te conjuguei
Antes de você partir
Muito antes de eu querer...

Unhas pintadas

Unhas pintadas
A Lê e a Patchó pintam suas unhas
Enquanto Papai do Céu chama você
Minha Estrela Única
Meu desejo de ser

O Rafa diz "minha vovó querida"
E nós em comunhão
Cantamos a sua volta
Expandimo-nos na imensidão

Minha forma de amor
Minha inspiração
Agora em Bia, Bete, Márcia, Marias, Luiz e Soninha
Você sempre será o meu melhor refrão...

Assuntando comigo

Assuntando comigo
Ouvir uma moda de viola caipira
Colocar o seu molho de pimenta
Em qualquer prato que eu for degustar
Experimentar olhar nos olhos da minha mãe
Me emocionar!

No sítio com meu pai passear
Lembrar da alegria da tia Bete
E daqueles que sempre vão chegar
Do amor que nos une e fortalece
Escrever para passar
Saber esperar

É assim vovó
Que eu dou conta dessa saudade matadeira
Que se achega
E não quer me largar...

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Bonequinhos de papel

Bonequinhos de papel
toda a criança cria para agigantar o mundo
Quando a gota da chuva é um oceano
Quando o dia vira um ano
Quando o vento é tempestade

Quando a dor traz a saudade
De um tempo de meninices
No ventre e nas crendices
Do bater do coração de uma mãe

Quando a manhã primeira se desnuda
Quando se encontra a cura
Quando a partida não anuncia a chegada
Quando o tempo traz a saudade

São essas dores da maioridade
Em uma cabeça mingau de chocolate
Onde a mentira também pode ser verdade
A desfilar credulidades
E se transformar em eternidade

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Mês de Maio

Mês de Maio
Deixo os sentidos falarem por mim
Hoje o silêncio é prece
E que ninguém despreze
O que eu peço ao Pai

Caso contrário minha caneta seca
A palavra não sai
Fica choca a descoberta
O desalento é demais

Peço, Pai querido
Como se fosse meu primeiro e último pedido
Para que no ano que vem
Tenha mais bolo e vela
Em uma reunião de queridos
A abraçar a própria história

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Ceifeiro

Ceifeiro
O homem é o vaso da palavra
Não apenas quem ouve
Mas também quem fala
Porque a palavra é rara
Se tomada em seu silêncio

Seja porque as vezes falamos para o mundo
Seja porque as vezes falamos para dentro
No silêncio da folha quarto
Antes da cabeça ter seu parto
A palavra germina
Não precisa ter rima
Se adubada com vigor

Eu sou agricultor desse campo a perder de vista
O exercício da escrita
Me faz sair de mim
Ser vaso de tantos outros
Na sutileza de ser assim...

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

3 de outubro

3 de outubro
A vida é cantinho
O cantinho da gente
O encanto da poesia
A rima diferente
O final que não combina
E mesmo assim emociona a gente

A vida é livraria
Poltrona para dois
Mesmo que pareça caber só um
É o zoom
Que a gente dá pra ver Deus
É lugar nenhum
E todos eles em nós

É Pedro e Maria
Luís e Assumpta
Carlos e Márcia
Respostas e perguntas
A data que fica no dedo
Na aliança com o amanhã

É viver
Não tem segredo
É ser mais do que a gente
É conjuntar daqui para frente
O nós...
Para sempre

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Jornada

Jornada
Olhe ali!
Os passos são os nossos
Há laços
E eu posso
Ouvir e sentir você
Meu amigo do silêncio
Ver é muito mais do que olhar
Sentir é também escutar

Olhe ali!
Perceba também
Meu amigo do invisível
O tempo não tem
Noção de si
E nem cabe em nós
Os dias são segundos
Para os seres mortais

Viver é muito mais do que escrever
É muito mais...

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Estranho eu

Estranho eu
Escadas, vielas
Ando pelos degraus da poesia
E troco os dias
Na certeza da imensidão
Ninguém faz barulho
Se não existir razão
Lá fora é ventania
Vem morar comigo no refrão

Paisagens, janelas
Ando pelos versos, 
indiferente
E engano os dias
A frase nem sempre tem continuação
Afinal, ninguém faz barulho
Se não houver razão
La fora é calmaria
Me deixe ser interrogação... 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Agenda

Agenda
Então Deus nos leva na carruagem do tempo
Acorde cedo
Beba água da cachoeira
Finja que já é sexta-feira
Visite a avó
Passe a tarde inteira

Coma bolinhos de chuva
Em dias de Sol a pino
Desenhe meninos
No seu protocolo judicial
Observe os pequeninos
Pendure o terno no varal

Saia da lógica
Desenterre a contradição
Fira o princípio da ordem
Declare-se mandrião!

Seja telescópio
Em céu que precisa de estrela
E descubra a maravilha
Que é ficar descoisando
Só de bobeira...

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Contingências

Contingências
Sou linha
No céu de papel
Linha que engruvinha
Nas nuvens lá do céu
Sou semente
Na terra dos grafites
Tenho cá minhas ervas daninhas
Quem não as tem
Não existe

Sou manhã solitária
Tarde de divagações
Sou sertões e capoeiras
Subida na ladeira
Sou sem querer ser...

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Cabeça baixa

Cabeça baixa
Renascer das cinzas
Tal qual a fênix que mora em mim
Que mora em todos nós
Desatar idiossincrasias
Nada precisa ser muito para ser demais

Veja bem, não sei se é um comportamento padrão
Sofrer é a trilha dos mortais
A terapeuta aponta a direção
"Encontre espaço
Sempre cabe mais"
E eu fico com o certeza
De que nada precisa ser tão pouco
Ao gosto dos florais

Mas veja bem!
Essa tristeza encontra morada
No silêncio das minhas palavras
No espaço dos papéis
Na palavra trancada
Na secura dos pincéis
Para que a tia Márcia me peça
"Escreva, você é capaz..."

E a cabeça, antes baixa
Já se faz do barulho
Como se viver fosse embrulho
Presente envolto em jornais
Viver é maré baixa
Maré alta
... Amanhã escrevo mais

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Mansuetude

Mansuetude
para o meu amigo Keiji! Ando com você! Sempre!
Olhe lá
Olhe lá!
Nada está tão longe
Que não possa estar!

É logo ali
Os nossos braços estão abertos
Todos estão tão pertos
É só continuar

Eu já escuto o silêncio dos teus passos
Não vivo só de retratos
Deus nos dá os lastros
Para seguirmos rumo à imensidão

Afinal, nada está tão longe
Que não possa chegar
A vida é isso mesmo
Não há contestação

Essa vazante e cheia
Esse trilhar sem previsão
Em um tempo que só o tempo consegue explicar
Só nos restando a compreensão 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Eu e tantos outros

Eu e tantos outros
Com os pincéis do improviso
Eu risquei céu colorido
Coloquei algo a mais no seu porta-retratos
Fiz a mistura do prato
Porque é quando a gente cria
Que a gente vira a gente
De fato!

Com as canetas da inconsequência
Mergulhei o elefante
Fiz voar o tubarão
Enchi de fé o descrente
E ironizei o perdão
Porque eu só me sinto meu
Quando me vejo ali
Esparramado em folhas pelo chão

E com os papéis da conversa
Lancei-me para além do tempo
Além de mim
Freei a pressa
Dei ao não a beleza da resposta
Que muitas vezes só cabe ao sim
Porque os outros são o eu que não está em nós
O eu que estará em nós
Mesmo depois do nosso fim

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Urbis

Urbis
O barulho do trem
Esse vai e vem
A moça com a pipoca estourando
O caminhar de tantos
Dezenas de cem!
E outros tantos mais

O tilintar dos passos
Percalços
Ruas e calçadas
Ninguém sabe muito bem
A sirene
O sereno
A noite que cai
O improviso está nela também

A cidade é essa obra inacabada
Espaço de nenhum em tantos nós
Que acorde e dorme
E nunca se satisfaz
Espaço do desencontro
Para que o trem carregue tantos mais...