sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Olhos para o alto

Olhos para o alto
A vida descortina
Bailarina menina
Dança e rima
Não tem medo de inovar

Eu tomo como cantiga
A destemperança a me ensofregar
Na ânsia de ser criança
Mesmo com toda essa barba a me denunciar

E do céu se alcança
O que as mãos não podem tocar
A vida não se cansa
Se a gente não se cansar

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Solidão metropolitana

Solidão metropolitana
Ao nascer de ti,
verdade escondida
Quero ainda tê-la como amiga
Em um tempo em que não morrerás
Porque a gente desconhece o logo mais
E o logo mais só nos pede fé

Ao viver no silêncio
Em meio aos milhões
Percebo, então, os tormentos
Desses edifícios que rasgam o azul
Onde o concreto conduz
Para as entranhas de você
E sem saber
Nos faz desaparecer

E, como se fosse luz,
você me conduz
Pra dentro de mim
Sem sacada
Morada
Ninguém vai me ver

E, assim,
acordo, me sento e olho
Verdade escondida
São Paulo não rima
Com companhia
Aqui o concreto instiga
O trem que se aproxima
E que leva você








...dizer o quê?

sábado, 14 de janeiro de 2017

Sobre escrever

Sobre escrever
Nasce menino
Menino capaz
De olhos retintos
Nasce uma vez mais

Nasce menina
De saias e fitas
No bordado das delícias
E nasce uma vez mais

O tempo acredita
Que é tempo demais
A imortalidade beatifica
Errar uma vez mais

Nasce
Porque nascer é morrer
Uma vez mais
Nasce do ventre do Pai
Nasce dos anseios dos mortais

Eu morri em mim
Tantas vezes quanto nasci
Nos devaneios da poesia
Nasci como refrão
No desespero de morrer
Como rima
Uma vez mais

Velho, novo, eterno abraço

Velho, novo, eterno abraço
Não guardo as palavras na gaveta
Não convém guardá-las
A vida se incumbe de trazer novas canetas
E o que for verdadeiro
Será parte crucial da jornada

Há tantos cantos
Amanhã aqui
Hoje lá
Contrarregra da existência
De verdade, o que se leva?

Nomes conjuntos
Anseios que não são só meus
Momentos únicos
E, só por isso,
já valeu!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Quarto de hospital

Quarto de hospital
Dos quartos onde já dormi, um deles, é fato, eu me recordo sempre. Seja porque a minha mãe estava ali, ao meu lado, seja porque o silêncio e o barulho dos corredores me faziam ver a vida ir e vir, chegar e partir. E ela pegava o livro, e lia para mim. E eu perguntava:
- Mãe, quanto é sete metros? Qual é mesmo o tamanho desse bicho?
- Da porta até a sua cama, eu acho...
E eu surpreso, dizia:
- Nossa, tudo isso?
Bicho comprido. E eu encurtava meus dias com tantas perguntas. E as pessoas ao meu lado ofereciam Leite Ninho. E eu dizia...
- Não, muito obrigado.
E daí, saiamos para outro quarto.
- Vamos – ela dizia. Você não pode ficar só deitado...
E eu olhava aquelas linhas pretas.
- Nossa, fui costurado.
E um dia chegou a carta da minha prima. Ela escreveu e mandou um recado. E eu pensava que quando a gente gasta tinta com outro, a gente ganha dobrado.
E eu ia visitar a minha amiga. Ela estava com o corpo queimado. E falávamos sobre a vida. E eu perguntava:
- Dói o seu machucado?
- Só quando é lavado...
Eu era criança ainda. E nem todos os segredos e medos poderiam ser revelados. Durante a noite, minha amiga chorava. E o silêncio era quebrado. Minha mãe me explicava:
- Ela está tomando banho, os machucados estão sendo curados.
Será que a gente chora de noite, para que no dia seguinte tudo já esteja solucionado? Não sei, tem perguntas que nem a mãe da gente consegue responder.
E depois veio a tia Zezé. E disse:
- Eu vim buscar você.
E daí eu sai e olhei as casas e ruas. E o cheiro lá de fora fez com que eu me lembrasse tantas e tantas vezes. Muitas tantas que a gente até se esquece de dizer...
- Mãe, eu amo você! Mãe, muito obrigado!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Entre o não sei e o talvez

Entre o não sei e o talvez
A solidão é menino pequenino
Raspinha do tacho
Esculacho
A solidão é opção?
Sei não
Só sei que nada fica sozinho
Quando se tem o conjugar das mãos

Eu sou menino crescido
Abobado e cheio de contradição
Metade de mim é escracho
A outra metade mal criação
Tomado por si só
E só por esse fato
Você a de convir comigo
Solidão é opção...