quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Cotovelos sobre a mesa

Cotovelos sobre a mesa
- Vê se come direito. Olhe essa postura aí. Assim a comida não desce. Nada de esconder o rosto.
  Mas as palavras já estão todas entaladas, não adianta usar a faca. Ela não vai cortar mesmo. Por mais que eu force, que eu tente separar as sílabas, a folha rasga, mas as sílabas não se largam.
- Então termine de comer e saía da mesa. Não quero cara feia aqui.
  Mas os papéis já tomaram conta, já viraram repasto e refeição, prato principal e para degustação. Não adianta mudar o lugar da coisa, se a coisa já mudou a gente. Não é o ranger dos meus dentes que incomoda. É a ideia de que as palavras ficam depois que a gente vai embora. E daí a gente olha a casa e elas estão espalhadas pelo tapete, pelo sofá, jogadas pelo chão.
- Danado você. Sempre arranjando desculpas para não comer.
  Meu regime é a autofagia das minhas ideias, na degustação absurda que faço das minhas ideias em folha qualquer. Ainda mais se eu tiver motivos para não escrever. Quer dizer, comer…

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