quinta-feira, 27 de março de 2014

Cada um de nós

Cada um de nós
Existir é amar
É ver e acreditar
Sentir e perceber
É conjugar
É querer
Um mundo de luzes
Cintilando em infinitos horizontes
E aos montes dizer
É único
É você!

Sintonia

Sintonia
A beleza é tão sua
E o tempo é tão nosso
E eu posso
Claro que posso
Ser sempre melhor

A vida desnuda
E a vontade escancara
E nem precisa ser primavera
Para o amor emanar
Coisa boa e sincera

Porque eu posso
É claro que eu posso
Acordar todos os dias ao seu lado
E de novo
E sempre
Me apaixonar

quarta-feira, 26 de março de 2014

Todos os dias

Todos os dias
                                                        Para a minha esposa, que sabe me ler todos os dias
- Acenda o lampião! – gritava Moisés
- Eu não, acenda você! – respondia
  E a escuridão permanecia. Era difícil acreditar que aquele pequeno lampião desse conta de iluminar todo o quarto. Por isso que a gente gosta muito de noite de Lua cheia. A casa fica bem iluminada.
- Você precisa acender o lampião! Acho que tem bicho aqui.
- Sossega Moisés. Daqui a pouco ele vai embora.
 Às vezes entrava barata, rato nem se fala. Pra esses a vassoura. Para as mutucas, queimávamos fumo de corda e pronto. Bicho não fuma. Isso é coisa de gente. Eu não gosto de pernilongo, mas o Moisés exagera. Passa o tempo todo antes de dormir reclamando. “Os pernilongos não param de me morder…”. E eu, só pra provocar, respondo: “Pernilongo não morde. Vai ver que é cobra!”. E ele ficava bravo. Virava, desistia e dormia.
- Você não vai levantar mesmo?
- Eu não! Já falei pra você acender. O fósforo tá ali na mesinha.
   Aqui não chegou energia elétrica. O pessoal da vila diz que o prefeito vai colocar até o final desse ano. Duvido. A gente sabe que isso só vai acontecer no ano que vem, ano de eleição. E a gente aqui não vota. Eu mesmo nunca votei. O Moisés já. Duas vezes. Ele sabe até escrever. Por isso ele se acha mais importante do que eu.
- Vou levantar! Mas só hoje.
- Tá bom. Amanhã eu acendo.
   E a situação estava resolvida. Moisés sempre acende o lampião. Sempre. Eu dobro fácil esse caboclinho. Ele se zanga, desiste e depois dorme. No outro dia tá tudo bem. 
- Acho que não tem nada não. 
- Falei pra você! Foi embora.
  Eu gostaria de escrever. Ia fazer letra bonita. Escrever cartas pra todo mundo. Mas não sei não. Acho que eu não tenho jeito pra essas coisas… O Moisés tem! No dia que a gente vai para o mercado é ele quem faz a lista. Ele fala pra eu pegar feijão e eu vou lá e pego. Nisso eu sou bom. Pra roçar também. O Tico, vizinho da gente é quem diz: “você tem mão boa! Plantou, colheu!”
- Amanhã a gente vai pra vila.
- Eu não vou não! Tenho que consertar o chiqueiro.
  O Moisés gosta de passear. Eu de trabalhar. Talvez se fosse o inverso eu acenderia o lampião… Eu não sei não, mas acho que tem hora que ele quer ser melhor do que eu. Ah se ele falar isso pra mim. Vou ficar é nervoso. Mas isso não vai acontecer…
  A vida aqui é sempre igual. É difícil acontecer alguma coisa nova. Vez ou outra cai uma cerca. Eu vou lá, boto no lugar pra cair de novo. Assim é a vida… sempre assim…
- Moisés, Moisés?
   Já tá dormindo. Amanhã vou perguntar pra ele porque a Lua fica cheia…

sábado, 22 de março de 2014

Pés descalços

Pés descalços
Retratos sobre o criado mudo
E o mundo a descobrir
Meus pés descalços
E a vontade de sair
Pequenos os passos
Gigante a caminhada

Sentir um abraço
Um aperto de mão
Eu tiro os sapatos
Para ouvir a imensidão...

sexta-feira, 21 de março de 2014

Certidão

Certidão
Cresci em um lar com muitas janelas, de muitas salas, de muitos livros. Cresci em um quarto com muitos amigos, alguns que só eu conseguia enxergar. Cresci sabendo brincar. Foram os meus irmãos e primos que fizeram isso comigo, e não dá jeito de mudar.
Cresci em um ventre de mãos afáveis, de cheiros agradáveis, de Bias, Betes e Marias. Cresci poesia e deixei de ser apenas travessão. Virei texto, virei livro, virei interrogação. E me pus vivo quando me enxerguei imensidão. A imensidão dos meus sonhos, dos versos que carrego comigo, da imensa vontade de que eles cheguem até as suas mãos. Para que você seja comigo, parte intrínseca dessa certidão.
E então lavrei no tempo-rei a certeza de que ninguém nasce sozinho. Ninguém cresce na solidão.

sábado, 15 de março de 2014

Baile nos céus

Baile nos céus
Vestidos de papel
A desfilar por um salão chão de grafite
E você tão perto de mim
 Melhor coisa não existe

É Deus
Acho que é Ele
A tocar
Pleno e sublime
A mesma valsa
A mesma canção

E então
Faço um pedido
E tiro os pés do chão
Venha comigo
Me dê sua mão
Para sermos vogais e consoantes
Poesias na imensidão...

terça-feira, 11 de março de 2014

Alguns minutos meus

Alguns minutos meus
Hoje sobrou tempo
E eu sentei
E aproveitei o tempo que sobrou
E pensei sobre o tempo
Sobre o tempo que usei
Para ser quem sou
Para escrever para minha irmã
Para amar minha mulher
Para organizar as coisas de amanhã
Para aprender com e ensinar os meus alunos
Para acreditar
Ter fé

E percebi que nem é ócio
Nem figuro como mandrião
É só o respiro em um mundo
Em que o tempo segue seu prumo
E a gente parece seguir sempre na contramão