sábado, 29 de setembro de 2012

Quando você sai de casa


Quando você sai de casa
Como se eu tocasse violão
Deito seu corpo sobre o meu
E dedilho as ideias e palavras
Neste momento sou tão seu

Toco em seus cabelos
Como se fosse a materialização da brisa
Escorregando por entre os meus dedos
Neste momento
Você invade minha vida

E então você parte
Minha luz manhã
E a saudade invade
E faço do papel
O meu divã

Não há mais segredos
Ditames revelados
Eu e você
Esparramados...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Antes de o último pingo cair


Antes de o último pingo cair
Escute!
Veja!
Você consegue me ouvir?
São gotas de culpa?
Ou mesmo a vontade de partir?
Não me peça desculpas
Amanhã você volta a sorrir

Veja!
Escute!
Quem mais precisa saber?
Se for essa a pergunta
Sim, eu ainda sonho com você...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Os cachos da minha mãe


Os cachos da minha mãe
Fui menino confuso
“Criança paraquedas
Que cai no colo de um anjo
Um anjo de saia,
com cachinhos no cabelo
e vontade de me dar asas

Fui menino pequenino
Porção de muitos sonhos e caras
E os cachos da minha mãe
um anjo de saia
São lembranças que carrego comigo
Contornos que levo em minhas caminhadas


Asas fechadas


Asas fechadas
Sofás e salas
Nossas saudades que não acabam
Filhos que partem
Dias que não se repetem
Nada além de devaneios
E toneladas de saudades
Amadurecidos estamos!
O tempo é quem reparte...

Pus nos dedos


Pus nos dedos
Cérebro oco
Cabeça vazia
Metade é desgosto
A outra metade é heresia

Septo tosco
Gosto de cru
Metade é cirúrgico
A outra metade...

Tronco e braços
Prometo que hoje não é o meu dia
Metade é minha cara de espanto
A outra metade
Só pode ser poesia

Goles de vinho em uma quarta-feira


Goles de vinho em uma quarta-feira
- Menino, vê se toma rumo e bota só as coisas certas para dentro da cabeça!
- Estou com vontade de ir embora. Olha a rua lá fora. Os carros passando, as pessoas andando. Veja! Adiante daquilo que eu imagino. Somos sós, sinos...
- Você está enganado. Não fale isso, é pecado. E Deus pode castigar...
- Que nada! Não tenho medo de experimentar. Fazer diferente e inovar. Quero pular o muro, me sinto seguro. Eu vou tentar...
- Pare com isso. Foi só mais um gole de vinho, não a garrafa inteira.
- Mas a canseira é tão minha e de mais ninguém. O mundo dentro das minhas incertezas. Eu quero ser feliz também...
- Então a dopamina de sua consciência é a poesia, ou será só aparência? Ninguém vive no escuro!
- Eu quero pular o muro, me sujar de tinta... Dar a finta que ninguém imaginou levar... Eu tirei o dia para orar...
- Que cabeça confusa. Pecado e perdão como coisa só... Você chega a me dar dó!
- Ótimo! Logo vem o sentimento de culpa. E depois as desculpas e aquela frase: “onde eu estava? Por que eu não pude te ajudar?”.
- Está bom, está bom... Você consegue mesmo complicar...
- Não sou eu! Olhe a ordem das músicas. Estou queimando em palavras...
- Agora de quem a culpa?
- Minha, sua... Sei lá. Quem erra, se educa. Eu quero mesmo é errar!
- Então não há mais desculpa. É melhor pararmos por aqui! Vamos parar...
- Eu sou casca da fruta. A garrafa de vinho! Abriu, tem que experimentar!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Coisas que eu escuto


Coisas que eu escuto
- Você sorri com os olhos!
E isso é tão diferente. Sorrir com os olhos... Vai ver que isso é uma das coisas que nos faz gente. A gente sorri porque algo bacana está dentro de nós e precisa ser dividido, ganhar o lado de fora. Como algo bacana que carregamos conosco na memória e queremos muito contar para os amigos.
E daí me pego pensando que também sorrimos com os ouvidos. Isso porque a alegria nos toma quando ouvimos algo bonito, quando escutamos os passos de alguém que a gente gosta chegando. Quando escutamos a voz dos nossos amigos. Ou seja, sorrimos porque escutamos.
E também quando abraçamos. Sorrimos através dos nossos braços, na docilidade e ternura dos nossos abraços. Braços lábios. E cada pedaço de nós diz para o outro ”Bom dia alegria!”.
Portanto, se sorrimos com os braços, com as mãos nós sorrimos quando escrevemos cartas e poesias. E daí, buscando materializar o sorriso das nossas palavras, a alegria das nossas letras, logo tratamos de fazer aquela carinha. Três, quatro traços, desenho simples, e novamente repetimos “Bom dia simpatia!”.
De fato, sorrir é humano. Está em nós desde os primeiros raios do dia. Sorrimos quando caminhamos diante das incertezas da vida. Sorrimos para mostrar a nós mesmo o quanto válido levantar-se todos os dias. Sorrimos porque acreditamos que sorrir encomprida a vida...

De manhã cedinho


De manhã cedinho
Veja a noite se transformar em dia
O amanhã ser hoje
E acontecer!
Veja os raios
Correndo sobre os telhados das casas
O que estava oculto
Aparecer!

Veja o horizonte se tornar reta definida
Ou uma hecatombe de ondulações
A mesa com as suas coisas preferidas
O cheiro do café
Que eu fiz para você

Veja a vida
Em seu ciclo poético
E infinito
E entenda
Porque eu acredito
Nas inúmeras maneiras
De dizer
É LINDO!

Conjugando você


Conjugando você
A vida é cheio de verbos
Em um caderno furta-cor
Um desfile de sujeitos
Presente, futuro
Pretérito
A vida é!
E isso eu sei

Você é meu caderno
Minha melhor conjugação verbal
Meu "siga adiante,
Eu te espero!"
Você é tanta coisa
Que eu nem sei

E se alguém me perguntar
Qual sujeito eu sou
Sou todos os sujeitos
Desde que conjugados com o verbo amor
O verbo que você me ensinou...


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Folha preenchida


Folha preenchida
Coisa pequenina a gente guarda com a gente e conta depois que a gente cresce. Daí vira coisa grande, lembrança saudável e bonita, dá até artigo de revista. A gente se lembra, e começa a perceber as miudezas que fazem parte da nossa história. A parte mais cheirosa da nossa infância, mesmo que não seja o mais aprazível dos odores. A parte onde conjugamos o verbo em tantas pessoas quanto foram os nossos amores. E eu me lembro do quintal da minha casa. Das galinhas que meu pai tinha. Das manhãs onde os ovos eram colhidos. E lembro-me dos meus amigos de rua, das brincadeiras e das partidas.
E me lembro da cesta de basquete que meu pai colocou na parede para mim. E me lembro de descer as escadas escorregando na caixa de papelão. E lembro-me da minha irmã e do meu irmão e de como adorávamos ouvir a mesma música tantas e tantas vezes. E me lembro dos meses onde a mesa estava cheia de frutas, e de quantas perguntas a minha avó respondeu para mim. São dias assim que me fazem escrever. Fazem ser.
E das coisas pequenas há tantas que a gente faz questão de reviver. Comer mangas com as mãos, arrancando com os dentes as cascas das frutas. E das várias, das muitas vezes que só observamos a nossa mãe e tentamos aprender a fazer. E a pergunta se torna única: eu fiz valer? Os abraços da minha mãe? Os livros que meu pai trazia da banca? Os panos de prato que pintei com a minha avó? O crescer ao lado de outras crianças?
O mundo é das pequenas letrinhas, das palavras que a gente escreve e deixa como recado. E entre apertos de mãos, nas manhãs frias de cafés quentes, eu, diante da imensidão da existência, sento, escrevo e digo... Obrigado. Viver é único. É sagrado!

Conversa com o espelho


Conversa com o espelho
- Então, qual é a descoberta que você quer fazer?
- Não sei... Há tantas coisas que eu ainda não perguntei para você
 - Que coisas são essas?
- Não sei se devo dizer...
- Diga, eu tenho pressa! Eu quero saber!
- Saber o que eu não sei?
- Saber quem é você. Somos nossas dúvidas e angústias, coisas que ainda não conseguimos responder. Somos uma eterna pergunta...
- Já sei! É aquela coisa de “ser ou não ser...”.
- Não é só essa a questão. A pergunta é você. Está em você. E daí a gente entende porque as pessoas choram, porque elas riem, porque elas leem e porque se põem a escrever.
- Isso serve para você
- E para você. Somos tão iguais em nossas diferenças. Você consegue perceber? Eu cresço com as suas dúvidas, no salutar exercício de me, de te conhecer. Somos tantas lutas com nós mesmos, no desafio de nos entender. Somos uma eterna busca, que nem sempre se encerra quando a gente morre.
Então, qual é a sua pergunta? O que você quer mesmo saber?
- Nossa, você ainda com essa pergunta!
- Vamos! Eu preciso de algo para escrever!
- Sou a sua grafite nessa busca de colocar a ideia no papel e fazê-la acontecer?
- Você e tantos outros. Mas sou eu quem pergunta aqui...
- Olha, perceba, já deu o horário. Terminou a nossa consulta! Amanhã eu pergunto o que você quer saber... Por hora, não tenho mais nada a dizer.
- E amanhã serão tantas novas perguntas que eu não darei conta de responder... 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Desabafo


Desabafo
Crio palavras
Porque algumas já não me servem mais
Crio e escrevo
Para ter o que rasgar
E assim me limpo
E consigo dormir

Tenho o meu dicionário
Meu divã de letras mudas
Que escutam as minhas angústias
E ficam presas na minha gaveta
No meu criado-mudo

Crio palavras
E eles não me servem mais
Engulo palavras
Só eu sei
Por onde elas saem…

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Delicadeza


Delicadeza
Meus versinhos melhores
São seus,
minha pequena

E as coisas que eu crio
São suas,
meu melhor poema

Você educa a minha cabeça
Faz com que a minha alma cresça
Com que tudo aconteça
Você é a minha princesa... 

Poesia cotidiana


Poesia cotidiana
Você de pijama
Assistindo a TV
Parece uma estrela
Que caiu do céu
Eu ainda viro cantor
E gravo um disco para você
Pequenina minha
Minha fórmula verde

Você de avental
No bailado dos pratos espumados
Parece ilha deserta
Esperando naufrago desterrado
Eu ainda embrulho você
E me dou de presente
No cotidiano
Há muito mais poesia
Quando você está na minha frente

Das coisas que Deus faz


Das coisas que Deus faz
É tanto azul e verde! Uma imensidão sem fim. Está bem na nossa frente. Vamos descobrir o que existe logo ali. Siga-me, a aventura começa agora.
E a hora que você perceber, será eu e você a desfilar olhos admirados diante de tamanha imensidão. Somos pontinhos de dúvida, interrogação, diante do espetáculo vida, desta incrível exclamação.
Siga-me, segure em minhas mãos. Depois daquela curva existe uma reta e um tanto mais de imensidão. Descalce, tire a blusa, deixe a chuva molhar você. A gente aprende cada coisa com as passadas certas e longas... E a estrada parece não ter fim. E se você cansar é só me falar. Eu carrego você dentro de mim.
É Deus quem fez todas as coisas? Acho que sim, desenhando com as mãos-tempo, riscando segundos, momentos, o encontro da onda na pedra. A festa das flores na primavera. E o cheiro molhado da terra. Deve ter sido Ele mesmo, não tenho dúvidas. A ciência explica, mas a nossa cabeça é quem usa, poetiza, ama e concretiza. Abusa! Já diziam outras bocas, o céu de Ícaro tem mais poesia do Galileu.
Eu me sinto seu neste palco de tantas retas e curvas. Bilhete meu para um espetáculo único. Amanhã serão outros vales e muros, rios e pontes. Uma infinidade de horizontes. Será mais uma vez a gente...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O cadarço do seu sapato


O cadarço do seu sapato
O contato imediato
Sua pele na pele minha
Um pedaço do espaço
Guardado em sua mãozinha

Rastro de felicidade
Circunstância ou acaso?
Expressão da incredulidade
Olha o nó nos nossos sapatos

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Noites no sítio

Noites no sítio
Você está vendo?
Consegue ver?
Começou a escurecer
As estrelas estão chegando
Já dá para perceber

Sentaremos em volta da fogueira
E contaremos a noite inteira
Coisas que a gente gosta de lembrar

E quando bater a canseira
Quando a lenha acabar
A gente bebe da certeza
Que outro dia irá raiar.

Perfil para consulta no Google

Perfil para consulta no Google
Sou inconstante
Como inconstante é a vida
Há dias que sou poesia
E outros
Dor de barriga

Sou de muitos sabores
Como os pratos dos meus dias
Sou movido por muitos amores
E por coisas que não queria

Sou o último abraço
E o primeiro aperto de mão
Sou o cansaço
E a excitação

Eu sou tantos

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Na sala de aula

Na sala de aula
Eu planto em um chão de possibilidades
De sorrisos e olhares surpreendentes
Eu semeio novidades
Notícias do passado e do presente

Eu acelero as suas mãos
Eu escrevo na sua frente
Eu desfilo curiosidades
Eu busco fazer diferente

E quando a colheita chegar
Colherei tantas ideias diferentes
Que terei o que plantar
Terei novas sementes

Despedida

Despedida
É chegada a hora
A hora de você ir embora
O trem passa agora
Rumo a lugar que desconheço
Crescer tem um preço
Dá-me um abraço
Porque eu mereço
E quando der vontade
Você bate na minha porta
Você sabe o meu endereço

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Meus cachinhos


Meus cachinhos
Enrolado o meu cabelo
Desde pequenino
Um mar de revolteios
“Bagunçado o cabelo deste menino”

Castanhos os meus olhos
Nas molduras dos meus óculos
Tomar banho com ele
De vez em quando eu faço

Desenhadas as minhas camisas
Riscadas as paredes do meu quarto
Mamãe há de concordar
“Deu trabalho já no parto!”

Abraço apertado

Abraço apertado
Veja!
Ainda há esperança
Nada termina hoje,
nem amanhã
É franco
Como o sorriso de uma criança
O espaço mais saboroso
Das nossas lembranças

Veja Rafa
Eu estou com você
E a gente vai junto envelhecer
Você verá meu cabelo cair
E vou escutar você
Tantas e tantas vezes
Quantas você quiser dizer
“Venha Rique,
estou com saudades!”

Tantos eus


Tantos eus
Eu sou figura de linguagem
Dos pés a cabeça
E mesmo que você me peça
Não consigo parar de metaforizar
                           
Sou hipérbole,
Um paradoxo sem fim
A ambiguidade
No contexto mais personificado
O pleonasmo de mim

E mesmo que não aconteça
Que a caneta não escreva
Seria ainda metonímia
Uma alegoria cacofônica
De coisas da minha cabeça irônica

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A primeira linha da poesia


A primeira linha da poesia
Talvez as pessoas não compreendam
E quem falou que é para compreender?
Mas as vozes continuam comigo
“Pedro, o que há com você?”

Há dias que elas ecoam
Pelos quartos
E pela sala da minha casa
E depois desaparecem
Vão embora

Então eu faço silêncio
Busco um papel
E começo a escrever
E depois as pessoas me perguntam
“Pedro, o que você quis dizer?”

Minha medicação


Minha medicação
Assim que amanhecer
Que o Sol chegar
Eu vou abraçar tanto você
Que você não vai mais chorar

E vou contar das coisas boas
Daquelas que a gente gosta de lembrar
Dos dias de Sol e de garoa
Dos dias em que saímos para passear

E daí você verá
Pelos castanhos olhos seus
Que o mundo é uma tela
Cheia de mares, montanhas e céus

Quando estou sem óculos


Quando estou sem óculos
Borrado
Esparramado
Fora de foco
E de lugar
Todo mundo tão igual
É melhor não cumprimentar

É quando eu me ponho de castigo
Saio,
ficando no mesmo lugar
Quando eu quero estar só
E comigo
E outras coisas enxergar...

Tardes silenciosas


Tardes silenciosas
Metade de mim não está
Está em outro lugar
E a saudade bate
Papéis vão faltar

A televisão está desligada
A música é minha companheira
Os lençóis com o seu cheiro
Eu cozinho e espanto a tristeza

E quando a noite começa a chegar
Eu espero na estação
E volto a respirar
Seu perfume
Seu cheiro
E volto a estar
Completo!


domingo, 9 de setembro de 2012

Família, gênero, espécie

Família, gênero, espécie
Eu sou a Rua do Porto
Sou a casa do Daniel
Sou parte do seu rosto
Sou também Rafael

Eu sou dinossauro de argila
Pássaro de papel
Sou este blog
E suas poesias
Sou a pipa lá no céu

Eu sou a moeda no seu bolso
O mingau da minha avó
Sou creme de abacate depois do almoço
Sou prima Virginia
Ensinando-me a dar nó

Sou minhas partes
E um todo
Difícil de classificar
Sou moço
Mas pode me chamar de Juliana

Café coado

Café coado
Eu me levantava, caminhava até a sala e esperava o sono passar. E o sono não passava, a vontade de dormir voltava (na verdade, ela continuava). Sonado, eu ressonava, fingia levantar. Mas não poderia deixar o sono me vencer. Adversário cruel, não dá trégua e nem descanso. E mesmo assim eu me levantava.
  Esquentava a água, media a quantidade exata de pó, adicionava a açúcar, coava. E o cheiro tomava conta, espantava o frio, golpeava o sono, meu súbito momento viril. E eu temperava a manhã com um adocicado aroma, criava coragem onde antes havia a vontade de não se fazer nada. Por certo, o café me ajudava.
  Mas a mesa não era exclusiva da cafeína. Entre enfeites e quadros, tinha espaço para mais alguém. Espaço para um vidro com biscoitos, papéis e anotações quaisquer. E quando o relógio completasse mais um quarto eu iria sair. Pronto, o sono enclausurou-se, fez silêncio em mim.
  Quantas vezes nos levantamos sem levantarmos nossas xícaras de café? Mecânicas formas de renascer, o óleo da minha engrenagem só poderia ser o café. Há outros aditivos, por certo. Mas a combustão só se dá pela proteína do líquido que escorria viscoso pela minha garganta nas auroras, nas minhas manhãs.
  E eu ia, carregava projetos, apertava os passos, não ouvia os de perto. Só pensava em chegar, iniciar o ciclo da sentença existencial. E o dia voltava e se revoltava em mim, como um agulhão, me cutucava e eu pedia o fim. Amanhã tem mais.