Trio
de dois
Aos meus pais, que se dispuseram a nos
compor com amor e maestria...
É difícil precisar o quanto
somos nós, violões de uma corda só, dedal a se perder no tecido. O tempo é
comprido, feliz daquele que versifica a vida e faz o tempo escutar.
Há pessoas que chegam quando
a letra nem se fez menina, quando o violão nem começou a ser dedilhado, quando
nem nasceu a rima. Nem parecem estar (mas estão!). E abraçam e se fazem amigos
e de amigos se faz o som dos abraços e sorrisos. E se escutam os nomes dos
primeiros riscos, dos versos de irmãos que vão nascendo, de primos que chegam
para brincar. É vida, e ninguém dá conta de frear. Por isso, quem escreve sofre
de uma espécie de disenteria. E bobo é
quem vai ao médico para querer se curar.
Cada um é seu tempo e o
tempo é de quem sabe amar. Tempo de encontrar o ombro do pai e chorar, amar e
amar a vida e ter consciência de que a gente chega na vida do outro e nem
percebe que já está. A gente encontra a rima, e faz nascer o refrão, e descobre
que a música não termina, que a vida deve mesmo ser canção.
E haverá de existir público
para a gente querer tocar. Sempre mais
de uma corda no violão para fazer o som que faz a rima bailar. Porque haverá de chegar gente depois que a
gente já tiver musicado, o bailado a começar. E juntam-se sapatilhas, chinelas
e pés descalços e se faz do salão a morada do continuar. Da vida, a coisa mais
gostosa que a gente já se dispôs a escutar.
Não sou violão sem melodia,
sou o violão de Patrícias e Rafas...
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