terça-feira, 29 de abril de 2014

Morada do poeta

Morada do poeta
Eu fiz a minha casinha num sopé
Na barranca do rio
E veio o barqueiro
Levou
E deixou um vazio
Fez moda
Tocou e disse que era dele
E que caboclo nenhum
Pode reclamar
Porque as palavras são como peixinhos
E a gente é a corredeira
Que segue o rumo
E só faz recitar

Então me fiz de rogado
Guardei a vara e o puçá
Mas quem escreve
Encharca os pés no alagado
Nada em rios bravios e calmos
Vive a reconstruir
Muitas casinhas na barranca
Nas curvas de um rio
Nas muitas corredeiras
E percebe que difícil mesmo
É padecer vazio... 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Bercinho no quarto

Bercinho no quarto
Se o tempo é sapiência
E quem explica as coisas do mundo é a ciência
Todos nós somos tubos de ensaio
A desfilar ponteiros e vivências
Diante da explosiva necessidade
De que a nossa química aconteça

É que falta a fé nos homens
Medo do bicho-papão e do lobisomem
Saber das coisas desse planeta
Pelos olhos das crianças
Que carregam os nossos sobrenomes...

Lencinhos molhados

Lencinhos molhados
Deus
Escreva em mim
Faz-me ser papel
Diz da minha miudeza
E que a minha avó Virgínia
Olha-me lá do Céu

Pai
Dê-me um abraço
Quero seus braços
Ser maior com você
Eu carrego os seus traços
Na experiência infindável de crescer
Por entre os muros e as ruas
Palavras e retratos
Fazer e refazer

Tempo
Faz-me não ser tão quarto
Minhas angústias e malgrados
Quero ser nuvem
Em um céu azul lindo
Troco todas as lágrimas
Por um único
E sincero sorriso

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Juliana

Juliana
Casinha de boneca
E se virar festa
Eu viro balão colorido
É tão lindo
A cor dos olhos seus
Meu maravilhoso infinito
Constelação na qual eu singro
E resido
Meu bem-estar
Juliana!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Globos oculares ao contrário

Globos oculares ao contrário
Não explico as coisas do mundo
Mas as coisas do mundo moram em mim
Não sou a resposta do que eu procuro
Mas a resposta está dentro de mim
Não sou o tempero dos dias
Mas ajudo a temperar o acordar das manhãs
Não adoeço sozinho
Há mais de mim em um divã

Muito mais... 

Desalinhos

Desalinhos
Vai ver que não é a gente, mas sim o mundo. Todo mundo. Incluindo a gente!
É um turbilhão confuso e profundo
Intenso barulho
Buraco qualquer
É encontro com o muro
Ausência de fé
É vazio
Taciturno e obscuro
Remar contra a maré
É do ângulo agudo ao obtuso
Gangrena nos pés
É sentir-se imundo
Ser algo que não é
O desejo mais sujo
E, mesmo assim
Não saber o que é...

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Mundo Solidão

Mundo Solidão
Lugar nenhum e todos eles, 16 de outubro de 2013.
Estimado Luis Paulo
A quantas anda? Fiquei feliz em receber sua carta e de saber sobre os novos projetos que almeja colocar em prática. É necessário mesmo não deixar as coisas caírem no vazio. Eu mesmo ando escutando umas coisas e me pego a pensar que vivemos em um mundo “tubo de ensaio”. Cada um com a sua mistura, dentro da sua casa laboratório.  É estranho. Seja porque nunca fomos tantos (mais de sete bilhões de bocas). Seja porque nunca encontramos tanta facilidade em falarmos uns com os outros. Bem que você dizia: “não se conhece o sabor da fruta olhando para a sua casca”. Do mundo só sabe quem vive nele. Dentro dele.
Conto um acontecido, fato que escutei hoje mesmo. É coisa pequena, ligeireza, não mais do que vinte, trinta linhas.
Fui comprar algumas coisas no mercado. Sai com um livro nas mãos. É que é em dia de feira metade mais um da cidade está caminhando entre as gôndolas do mercado, analisando preços, discutindo coisas tantas. Pensei: “a paciência é a virtude do cliente de hipermercado em dia de preços reduzidos”.
Mas então algo surpreendente ocorreu. Não havia quase ninguém, ninguém mesmo. Era visível que até as atendentes dos caixas esperavam clientes chegarem com seus carrinhos abarrotados de compras. Dei-me ao luxo de caminhar um pouco além do previsto pelos corredores daquele mundo de produtos. E pensei “nem vou precisar abrir o livro”. E, de fato, não precisei. Coisa estranha.
Aproximei-me de um caixa, coloquei as compras sobre a esteira e dei início a uma conversa com a moça que iria me atender. De pronto, indaguei a funcionária...
- Nossa, está tão vazio aqui hoje. Há algum motivo?
- Tem não. Tem dia que enche, tem dia que não vem ninguém. Parece que as pessoas combinam.
- É, parece mesmo. Mas eu nunca peguei o mercado assim. Sempre vim e me deparei com filas consideráveis.
- Ah, tem dia que é assim mesmo. Tem gente que vem quase todos os dias, praticamente nos mesmos horários.
- Sério? – perguntei curioso – Qual seria a razão?
- Ah, tem gente que vem tomar café, outros contar sobre a vida. Um mesmo vem paquerar... É a solidão, né?!
- Paquerar?
- Isso mesmo. Certa vez indaguei um senhor do por que dele vir todos os dias ao mercado. Às vezes, ele comprava um salgadinho e ia embora. E ele, de pronto, respondeu: “venho paquerar!”.
Sabe Luís, sai do mercado pensando na história desse senhor. Realmente, vivemos tempos diferentes. Gente precisa ver gente. Sempre foi assim. Só que hoje em dia a praça é o mercado lotado. Antes, era banquinho na frente de casa, dedo de prosa com o vizinho. Hoje é mais porta fechada. É desalinho.  
Mas que a gente tem o costume de ser só a gente quando enxerga o outro, isso é verdade. Nem dá para mudar. Que graça tem em ser palmeira sozinha em uma ilha no meio do oceano? 
Terminei a conversa com a simpática moça, pus as minhas coisas na sacola e segui rapidamente para casa. E me pus a pensar: “nem sabia que o hipermercado vendia antídoto para a solidão”. Coisa estranha, não é mesmo? É o mundo de hoje. Mundo Solidão!
Abraços e votos de felicidade e saúde,

P.

Lousa embarcação

Lousa embarcação
Ser seu amigo
E ter contigo
A certeza de que é lindo
Ver coisas novas
E novamente se maravilhar com o passado
E ser quadro
Com pinturas mil
A preencher todos os espaços
E não deixar vazio
A vida é feita de abraços
Gizes gastos
E sorrisos mil
De fato
A gente é barquinho
A deslizar na corredeira do rio

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Escolhas

Escolhas
A delicadeza está nas mãos
Nas incertezas
E nas sutilezas
De um sorriso seu
E eu fico são

A leveza está nos traços
E nos quadros
Que emolduram a parede
E da caminhada se grava
No chão os nossos passos

A certeza é vento
A vida é intensa
Momento
E eu quero ser o mais vivo
Dos seus pensamentos