sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Conversa com seu Estácio


Conversa com seu Estácio
Eu me sentei nas cadeiras da frente. E já sabia o nome dele. E sabia que a mãe morava na Grécia. E que ele falava uma vez por mês com ela, usando uma das muitas ferramentas tecnológicas que temos hoje. E ele se emocionou. E perguntou:
- Como você se lembra de tanta coisa?
E eu disse...
- Por que eu haveria de esquecer?
O mundo é dessas lembranças. Das conversas que temos quando estamos esperando o ônibus no mesmo ponto. Quando começamos a falar de algo no noticiário, do que achamos que precisa melhorar. E do que já está pronto. Quando abrimos um sorriso e pedimos acalanto. Quando fazemos porque acreditamos que é lindo. Quando amamos uns aos outros. E apesar de parecer tão pouco, é tanto. Tanto... É lindo.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Paixões entre os 16 e 19 anos


Paixões entre os 16 e 19 anos
Casa sem porta
Pergunta sem resposta
E você nem nota
O que eu fiz prá você
Engruvinha e dá volta
Finge mesmo não entender
Como linha enrolada
Nó que não desata
E mesmo assim
Eu só penso em você

Trancas e cadeados


Trancas e cadeados
Meu “muito obrigado”
O espetáculo já acabou
Saiu a lista dos culpados
E meu nome não entrou
É como a chave do cadeado
Quem foi que encontrou?
Deus perdoa sempre os nossos pecados
Principalmente quando a gente erra por amor...

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Logo adiante


Logo adiante
- Na próxima curva, pai! É lá que tem peixe.
  E o cheiro da grama verde, exalado pelo pisar dos nossos passos. Não há cadarços e a linha não vai dar nó. Seu Dito traz novidades do pasto e do bezerro que quer nascer. E eu olho os teus braços e me pergunto por que não pescamos mais vezes, tantas vezes nós queiramos. E o ribeirão corre silencioso. E o tempo nos faz crer. Os desatinos e desafios... O que irá acontecer?
- Ainda hoje vai chover.
E a fogueira que eu fiz com o Enzo, juntando gravetos e papel velho. E o fósforo riscado e apagado pelo vento. E o calor que conforta. Faz frio, mas não é inverno.
- Não, filho. O peixe está aqui. Na água corrente.
E lá na frente irei pescar com mais alguém. E o tempo irá perguntar quantas linhas nós amarramos entre nós. E então recomeçamos a lembrar do peixe que escapou. E, em um jogral de metáforas, lembramos que a linha uniu o que o mundo dos adultos separou. Aqui, onde eu moro, não tem rio que dê peixe, nem na curva e nem na água corrente. Por isso, quando eu volto, faço a vara, desço o morro, mesmo que eu não pesque nada, já me sinto tão contente.   

Quinta-feira, 22 de novembro, 14:39


Quinta-feira, 22 de novembro, 14:39
Quero acordar com o barulho da chuva
Lembrar-me da tia Maria
E da chácara onde ela morava

Quero pintar panos de prato
Ao lado da minha avó Virgínia
E colecionar retratos

Quero viver poesias
Na demagogia
de uma tarde de solidão
Colocar o desenho na moldura
E entregar em suas mãos 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Conclusões


Conclusões
Algumas coisas são o que são. E estão no mundo antes da gente nascer. É que a gente só começa a enxergar o mundo depois que a gente começa a entender, a enxergar o reflexo no espelho e ver o fundo. Quando a gente começa a perceber que é gente. Mas há coisas, tantas, que já estão no mundo antes mesmo da gente ser. Estão, e por mais que queiramos, fogem a nossa compreensão, nos restando apenas aceitar, quiçá entender.
Então você se pergunta por que a reza precisa ser o barulho reverberado na entrada do túnel, atravessando a estação? Por que a dor ganha o pélago profundo quando está em nós e não mais apenas no outro? E por que há canetas que escrevem sentenças e outras poemas? Há coisas muito além dos anos que passamos aqui, e que nossos avós e os pais deles viram e quiseram nos contar. E há coisas que eles viram e não contaram, e nem por isso deixam de estar. As narrativas parecem centelhas do tempo na existência cíclica da vida. O tempo como o chiado neste silêncio-planeta, onde desfilamos nossas canetas em folhas já há tanto rascunhadas e preenchidas. E não há borrachas que consigam apagar as mãos e pés de tantas letras que desfilaram alegrias, sonhos, frustrações e tristezas. São coisas que já estão no mundo, não importando a nossa presença. Estão como pano de fundo, não importa o que aconteça. E as vírgulas escancaram incertezas. E eu me sento e escrevo coisas que estalam na minha cabeça. E penso: há coisas que são o que são. Pronto. E nada faz com que o tempo esqueça. 

Próxima partida


Próxima partida
Amor
Olhe a cor da sua camisa
O sonho que você acabou de inventar
O trem já está de partida
Todos se levantam
Amanhã talvez eu volte
Eu sei que eu vou voltar
E desfilarei
Pelas ruas e avenidas
Em colóquios e seminários
Com um “eu” tão seu
Que só você saberá
Onde encontrar

Coisas que a gente pensa


Coisas que a gente pensa
para o meu irmão, que escreve tanto ou mais do que eu.
Depois de ter lavado toda a louça, guardado o que estava fora do lugar, pensei sobre essa coisa estranha que é escrever, sem ter hora e nem lugar. Do exercício de sentar e exercer as infinitas possibilidades que um papel, uma caneta e situações muitas podem ofertar.  
E logo de início, lembrei-me do fato de que muitas pessoas me pedem para escrever. Escrever coisas que elas falam, mas que gostariam mesmo de ler. Não que esteja fazendo um simples plágio, até porque o que há de mais original do que transformar letra cantada em palavra que os olhos podem beber? E não precisa ser frase completa, nem já ter início, meio e fim. Basta uma reta, grafite e o espaço branco da folha todo para mim.
E depois conclui que a minha mãe e meu pai pouco ou nada pediram para eu escrever. Eles me leem antes da letra escrita. Eles conhecem os verbos que transitam na minha vida. São os sujeitos, ocultos algumas vezes, nos textos que publico em jornais, blogs e revistas. E, certamente, sabem que muitas das frases são ideias repetidas. Mas são frases minhas e de tantas outras vidas.
E então, quase que sem querer, perguntei-me quantas e quantas vezes irei escrever sobre as coisas que as pessoas pedem para eu escrever, sobre as coisas que as pessoas gostam ou não de (me) dizer. E lembrei-me da frase que a Marilice me disse, da questão que a Liane me trouxe, dos textos que guardei e entreguei para a Salete. Das coisas que o Seu Osvaldo quis colocar no jornal, da carta que entreguei ao Jurandyr e ele guardou com os documentos. E por um momento, neste momento, percebi: eu escrevo para um mundo de tantos outros que é impossível serem tão poucos. Eu escrevo para abraçar crianças, meninos, senhoras, senhores, moças e moços. Para aumentar o tamanho dos meus braços. Para expandir o sorriso no meu rosto. Eu escrevo. E pronto!


domingo, 18 de novembro de 2012

Café frio


Café frio
Hoje é dia de silêncio
Olhos abertos na madrugada
Hoje é parada
Antítese do movimento
Hoje é nada

Hoje é dia de frio e vento
Metade que não se encaixa
Hoje é dia do rompimento
De vozes embargadas

Hoje é dia de louça suja
Poeira debaixo do tapete
Hoje é o cansaço estampado na cara
Hoje a minha cabeça fez piquete

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Olhando o horizonte da janela do apartamento


Olhando o horizonte da janela do apartamento
A beleza está aí!
Você consegue ver?
Bem diante dos seus olhos
Tudo isso que está
diante de você

E qual é o nome disso tudo?
Tanto tudo
que eu nem sei ver

É o infinito e o mundo
Uma linha no horizonte
O adiante
E o que pode ser
É o que se chama
de passado, presente
e futuro
O tempo,
conjugado pelo verbo viver

Então tudo
é isso tudo?
Não tem nada
que não possa ser?

Não!
Porque isso tudo
é o altruísmo elevado ao absurdo
É o amor divino
A manifestação mais digna
deste presente
que a gente carrega com a gente
Chamado vida
... E quem disse que termina
quando a gente morrer?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Por entre os móveis da sala


Por entre os móveis da sala
As duas mãos para frente
Em um passo além do presente
Discursando sobre o amanhã
E o amanhã
Na frente da gente

Tão de repente
E de repente sem você
Em um devaneio de contas não pagas
E de tantas coisas
Que a gente se esquece de dizer

Em um desfile
De aventais e pratos pela casa
E as crianças brincando de crescer
Repetindo as mesmas piadas
A mesma vontade de ser

E tudo fica tão perto
Mesmo sendo tão distante
E a gente sente saudades
De gente como a gente...

Finais de ano


Finais de ano
“A alegria evita mil males e prolonga a vida.”
William Shakespeare
Então, eles se levantam. E gritam: “valeu a pena”. E você pensa: “e por que não valeria?”. Afinal, viver é colecionar alegrias, rir das ironias, tentar entender como aquele pequeno objeto foi cair bem no ralo da pia. E olha a aguaceira que ficou! Entupiu tudo.
E diante das inconstâncias, das inúmeras circunstâncias, as pessoas chegam, ficam e partem. O mundo dos teatros, dos palcos que entramos, estrelamos e se quer imaginamos. Retratos de um dia, captados pela câmera de segurança do elevador. Mas a essência fica conosco. A essência se chama amor.
E isso, ninguém nos tira!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Uma do final do caderno


Uma do final do caderno
Não conjugo verbo sozinho
Quero ser primeira pessoa do plural com você
Não sou de transitivos indiretos
Eu transito pelas inúmeras possibilidades
Que uma folha branca nos dá
No exercício de escrever
Um irresistível convite
A folha parece que grita
“Vem me preencher”

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Juramento


Juramento
Amanhã bem cedinho
Quando começar a amanhecer
Quando a revoada dos passarinhos
Passarem por cima dos telhados
E descansarem
Nas antenas de TV

Amanhã
Bem de manhã cedinho
Antes mesmo de acontecer
Como o primeiro abrir os olhinhos
E dormir mais um pouquinho
Antes mesmo de ser

Amanhã
Bem de manhã cedinho
Em uma mesa 
Com coisas gostosas para comer e beber
Estará lá
Vai estar
Um bilhetinho
Escrito
“Amo tanto você”