Coisas que a gente
pensa
para o meu irmão, que escreve tanto ou
mais do que eu.
Depois de ter lavado toda a louça, guardado
o que estava fora do lugar, pensei sobre essa coisa estranha que é escrever,
sem ter hora e nem lugar. Do exercício de sentar e exercer as infinitas
possibilidades que um papel, uma caneta e situações muitas podem ofertar.
E logo de início, lembrei-me do fato de que
muitas pessoas me pedem para escrever. Escrever coisas que elas falam, mas que
gostariam mesmo de ler. Não que esteja fazendo um simples plágio, até porque o
que há de mais original do que transformar letra cantada em palavra que os
olhos podem beber? E não precisa ser frase completa, nem já ter início, meio e
fim. Basta uma reta, grafite e o espaço branco da folha todo para mim.
E depois conclui que a minha mãe e meu pai
pouco ou nada pediram para eu escrever. Eles me leem antes da letra escrita.
Eles conhecem os verbos que transitam na minha vida. São os sujeitos, ocultos
algumas vezes, nos textos que publico em jornais, blogs e revistas. E,
certamente, sabem que muitas das frases são ideias repetidas. Mas são frases
minhas e de tantas outras vidas.
E então, quase que sem querer, perguntei-me quantas
e quantas vezes irei escrever sobre as coisas que as pessoas pedem para eu
escrever, sobre as coisas que as pessoas gostam ou não de (me) dizer. E lembrei-me
da frase que a Marilice me disse, da questão que a Liane me trouxe, dos textos
que guardei e entreguei para a Salete. Das coisas que o Seu Osvaldo quis
colocar no jornal, da carta que entreguei ao Jurandyr e ele guardou com os
documentos. E por um momento, neste momento, percebi: eu escrevo para um mundo
de tantos outros que é impossível serem tão poucos. Eu escrevo para abraçar
crianças, meninos, senhoras, senhores, moças e moços. Para aumentar o tamanho
dos meus braços. Para expandir o sorriso no meu rosto. Eu escrevo. E pronto!