Os
contornos das mãos
Como se fosse o último dos santos, a encantar
multidões, que antes mergulhavam em prantos, agora folgam ao darem as mãos.
Como se fosse acalanto, resultado do simples encontro dos olhares, e em tantos
lares, a mesma sensação. Uma pausa, a parada. O silêncio e a multidão.
Como se fosse o primeiro oi, de um dia que
ainda não raiou. E desejo atropela o medo, e a gente nem percebe que já acabou.
Então, o barulho das malas e cartas, vasculhadas ao abrirmos as gavetas do
tempo. E, por um momento, por mais um momento, o silêncio se faz presente e cala
a multidão. E todos juntos, na mesma pausa, como se para o tempo existir não
fosse a questão.
E então, o encontro vira momento. E somos
sentimentos, transmitidos pelo tocar das mãos. E o silêncio multilíngue, a
dialogar com nós mesmos, a boca no contorno das nossas mãos, faz-nos certos
diante das incertezas que virão. E há que ser assim, até o último momento. Até
o momento em que segurar a sua mão...