Hoje não
- Escreve aí seu moço. A gente precisa das suas letras.
- Hoje não dá não. Elas estão todas guardadas no estojo.
Estou sem ideia na cabeça.
- Mas não é você o escritor? O sabichão de todas as letras?
- Hoje não sou eu não. Não vale a pena gastar a tinta das
minhas canetas...
- Mas os interlóquios, os entretantos, os poréns e os senãos?
- Hoje não. Estão tímidos, recatados, de mãozinhas dadas, no
fundo do meu colchão.
- Mas justo agora. O porquê eu quero saber
- Não tem porque. Eu só não quero escrever. Quero guardar
comigo. Quase nunca ninguém me lê, por que agora pedem para eu escrever?
- Mas serão só umas vinte, trinta linhas. O que é isso para
você?
- É o vermelho sangue das minhas tintas, no desalinho da
cinta da ideia. O silêncio é o barulho mais ensurdecedor. Fale isso pra ela...
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