Banco
de praça
- Qual é mesmo a sua graça? Quer dizer, seu
nome?
E daí a gente começava a prosear, sentados em
um banco de praça, sem hora para ir embora, deixando o dia ficar. Ficar
comprido, como o arco-íris lá no céu. E assuntávamos sobre o mundão das coisas
grandes. E das pequenas também, daquelas que cabem em um pedaço de papel.
- Quantos anos você tem?
E daí, no vai e vem das pessoas nas ruas,
comentávamos das aventuras que ainda gostaríamos de realizar, daquele lugar que
a gente viu na TV e quer muito visitar. E depois assuntávamos sobre as músicas
que os nossos rádios não param de tocar. E abraçávamos com ternura as certezas
e os amores que gostamos de carregar. E, de um conforto de colo de mãe, riamos
por estar.
- E amanhã, do que a gente vai conversar?
E deixávamos o assunto para o próximo banco
decidir. Porque ninguém está aqui para ficar só de ouvinte. A gente gosta de
falar. Dividir o nosso mundo. E é tão gostoso quando tem mais alguém para
escutar. A gente encomprida o assunto, incorpora a voz, faz cara de coisa
séria, e começa a desfilar. E surgem perguntas, parece que a coisa toda
realmente é importante. E daí, a gente se pergunta: quantas foram as vezes que
sentamos e experimentamos se sentar e ouvir mais um instante?
- Foi um prazer ouvir você falar.
E amanhã, talvez nesse mesmo momento, mesmo
que seja por um instante, haverá uma espécie de cumprimento, tão fraterno
quanto o enroscar das mãos da gente.
- Sabia que você me faz ficar contente?
Nenhum comentário:
Postar um comentário