quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Os óculos da minha avó


Os óculos da minha avó
A gente cresce, mas não esquece coisa boa que já aconteceu. Mesmo que não se repita, mesmo que seja apenas lembrança. A avó da gente é como mingau de chocolate. A gente gosta e não se importa em repetir. De ir mais de uma vez no mesmo dia dar um abraço, dizer que só ela sabe fazer aquele macarrão, aquele suco, prestar atenção em cada palavrinha que a gente fala.
A minha avó se chama Assumpta, mas como o nome é meio difícil de falar a gente chama de Vó Sunta mesmo. Ela é uma senhora de cabelinhos brancos desde o dia em que eu a conheci. E usa óculos para conseguir enxergar que neto ou bisneto está batendo em sua porta. A minha avó não se importa se eu pedir mingau logo que em sua casa eu entrar. Não importa se eu falar que quero repetir, que estou chegando para almoçar. E se alguém me perguntasse como ela é, me lembraria dos óculos e dos cabelos brancos. Mas tem muito mais. Tem tanto. Minha avó é forte, é valente, sempre atenta, consciente, muito independente. É minha avó. Avó de muitos netos, lembrando-se do aniversário de todos. Memória de avó às vezes falha, mas não esquece aniversário de neto. Isso não. Minha avó é canção, uma porção de palavrinhas que eu não consigo mensurar. Minha avó expressa àquilo que a gente insiste em declarar: “eu te amo!”.
Os óculos da minha avó sempre me lembram de que existe brilho em tudo que a gente faz, que o orgulho é o cancro dos mortais, que o melhor é abraçar quem precisa, estender as mãos para quem chega e sempre ter guardada, mesmo que seja lá no cantinho da geladeira, uma sobremesa. De preferência, mingau de chocolate.

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