quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Na portaria


Na portaria
Foi meio que por acaso, daquelas coisas que tem de acontecer. Tinha parado de chover e eu decidi fazer o que era necessário. E entre o abrir e fechar o portão encontrei alguém. Eu sempre encontro alguém. Mas dessa vez foi diferente. Foi diferente.
E começamos a conversar sobre a chuva que não para. Sobre um ano que se inicia. E então ela me disse: “eu, com os meus oitenta e sete anos...”. E eu me silenciei e perguntei: “quanto? Quantos anos a senhora tem?”. E ela me respondeu: “oitenta e sete. Por quê?”.
E eu não consegui dizer que aquilo era mágico, seja pela leveza no rosto daquela senhora, seja porque existe tanta história ali, tanta vida que a gente sente vontade de sentar, conversar, não mais ir embora. Apenas silenciar e ouvir. E logo fiz a conta: ela já viveu mais de duas e vezes e meia os meus dias! Todos os meus dias. Com certeza, a dona Adelina sabe colocar cada verbo no seu devido lugar, sabe diferenciar bravatas de poesias.
E logo me maravilhei com a possibilidade que a pessoa ali me dava em dividir um dos seus dias, todos os dias em que nos encontrávamos. E ela me pergunta da minha esposa, quais são as expectativas acerca do novo prefeito, o que eu havia feito. E eu pedia, na minha pequenez diante dessa imensidão chamada vida, que se um dia eu envelhecesse, que fosse daquela forma: com luz, amor, paz e alegria. E nada mais eu pediria... Nada mais.

Um comentário:

  1. Que lindo Rique... mas estou meio decepcionada com velhos depois que meu avô me disse era nazista, e que acha que Hitler estava certo... Pode? Bjsss

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