Na
portaria
Foi meio que por acaso, daquelas coisas que
tem de acontecer. Tinha parado de chover e eu decidi fazer o que era
necessário. E entre o abrir e fechar o portão encontrei alguém. Eu sempre
encontro alguém. Mas dessa vez foi diferente. Foi diferente.
E começamos a conversar sobre a chuva que
não para. Sobre um ano que se inicia. E então ela me disse: “eu, com os meus
oitenta e sete anos...”. E eu me silenciei e perguntei: “quanto? Quantos anos a
senhora tem?”. E ela me respondeu: “oitenta e sete. Por quê?”.
E eu não consegui dizer que aquilo era mágico,
seja pela leveza no rosto daquela senhora, seja porque existe tanta história
ali, tanta vida que a gente sente vontade de sentar, conversar, não mais ir
embora. Apenas silenciar e ouvir. E logo fiz a conta: ela já viveu mais de duas
e vezes e meia os meus dias! Todos os meus dias. Com certeza, a dona Adelina
sabe colocar cada verbo no seu devido lugar, sabe diferenciar bravatas de
poesias.
E logo me maravilhei com a possibilidade que
a pessoa ali me dava em dividir um dos seus dias, todos os dias em que nos encontrávamos.
E ela me pergunta da minha esposa, quais são as expectativas acerca do novo
prefeito, o que eu havia feito. E eu pedia, na minha pequenez diante dessa
imensidão chamada vida, que se um dia eu envelhecesse, que fosse daquela forma:
com luz, amor, paz e alegria. E nada mais eu pediria... Nada mais.
Que lindo Rique... mas estou meio decepcionada com velhos depois que meu avô me disse era nazista, e que acha que Hitler estava certo... Pode? Bjsss
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