quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Quarto de hospital

Quarto de hospital
Dos quartos onde já dormi, um deles, é fato, eu me recordo sempre. Seja porque a minha mãe estava ali, ao meu lado, seja porque o silêncio e o barulho dos corredores me faziam ver a vida ir e vir, chegar e partir. E ela pegava o livro, e lia para mim. E eu perguntava:
- Mãe, quanto é sete metros? Qual é mesmo o tamanho desse bicho?
- Da porta até a sua cama, eu acho...
E eu surpreso, dizia:
- Nossa, tudo isso?
Bicho comprido. E eu encurtava meus dias com tantas perguntas. E as pessoas ao meu lado ofereciam Leite Ninho. E eu dizia...
- Não, muito obrigado.
E daí, saiamos para outro quarto.
- Vamos – ela dizia. Você não pode ficar só deitado...
E eu olhava aquelas linhas pretas.
- Nossa, fui costurado.
E um dia chegou a carta da minha prima. Ela escreveu e mandou um recado. E eu pensava que quando a gente gasta tinta com outro, a gente ganha dobrado.
E eu ia visitar a minha amiga. Ela estava com o corpo queimado. E falávamos sobre a vida. E eu perguntava:
- Dói o seu machucado?
- Só quando é lavado...
Eu era criança ainda. E nem todos os segredos e medos poderiam ser revelados. Durante a noite, minha amiga chorava. E o silêncio era quebrado. Minha mãe me explicava:
- Ela está tomando banho, os machucados estão sendo curados.
Será que a gente chora de noite, para que no dia seguinte tudo já esteja solucionado? Não sei, tem perguntas que nem a mãe da gente consegue responder.
E depois veio a tia Zezé. E disse:
- Eu vim buscar você.
E daí eu sai e olhei as casas e ruas. E o cheiro lá de fora fez com que eu me lembrasse tantas e tantas vezes. Muitas tantas que a gente até se esquece de dizer...
- Mãe, eu amo você! Mãe, muito obrigado!

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