Um chapéu
para duas cabeças
“Sobre o que você
escreve?”, perguntava-me Paulo. Eu, sem muito pensar, respondia “Nada, nada
não”, e voltava a escrever. Aí, Paulo me dizia, “não se escreve sobre o nada
porque o nada tem qualquer forma, indefinida. E para escrever você precisa de
uma forma, mesmo que não querida”. Eu ficava pensando: “como pode ele saber se
sou que estou escrevendo?”. O leitor há de concordar que o texto pode começar a
esmo, um rabisco, a vontade de falar entre as linhas do papel, rabiscando uma música,
um desenho, um carrossel. Mas é de quem escreve.
Guardo os textos e me
levanto. Fico de canto, imaginando-me leitor, fingindo não saber a próxima
letra, nem o próximo refrão. E a pergunta de Paulo me incomoda, mastiga os meus
ouvidos. Mas tantos outros já me fizeram a mesma pergunta, por que eu parei
para pensar só hoje? Justo hoje que eu tinha a tarde livre. Mas que audácia do
Paulo, perguntar sem calcular o perigo, não para ele, mas para mim. Eu sei que
ele quer resposta… E se eu não quiser… Melhor, não puder dar? Eu listo motivos
(… já deixei de ser leitor), justifico, depois releio, rabisco… Não é isso.
Argumento maldito. Nem tudo tem motivo, nem todo o movimento é permitido, nem
todo o verso é raciocínio… A maioria é compulsão. Essa pergunta de Paulo ainda
vai me deixar absorto, preso à questão. Da próxima vez não permito, nem a ele e
nem a mim.
Por que não me
perguntou sobre a existência, a morte ou a solidão? Citaria frases de impacto,
uma porção… Fingiria ser o autor, declamando no púlpito da verberação,
mostrando a ele que perguntas (concordo, nem todas) cansam demais e quebram a
criação…
Eu, tão certo, escrevendo meus verbetes… aí vem o Paulo, indigesto, acocorar o que eu escrevi, acerbar e depois partir… foi isso o que ele fez. Deveria castigá-lo, não deixa-lo mais ler, nada, nada mais do que eu escrevo. Aí ele ia ver como é difícil explicar. A palavra é miudeza, mas é grande na frase, pedaço, parte, parte… Nada mais é devaneio. Está no papel, não nas ideias, está em folhas soltas, não nas dobras do meu travesseiro.
Incomodado já estou, e isso não vai mudar. Eu fico pensando o que fazer, qual resposta dar? Não para o Paulo, mas para mim, sobre esse negócio de criar… “Do que eu escrevo?”. Posso escrever sobre hoje, talvez o amanhã, eu sobre você, você sobre você… quem sabe? Eu encontro um papel em branco e me ponho a escrever… Aí vem um infeliz e pergunta “do que está a escrever?”. Chapéu para duas cabeças… Isso é que é… Meus textos escondem meus olhos, revelados nos verbos, na ausência do espaço, exata melodia… Encontro os olhos de quem quer ler… Escrevo sobre o que vejo… Leitor incapaz de entender… Não me pergunte quais os motivos… o motivo é que alguém vai ler… Meus textos não são meus…
Eu, tão certo, escrevendo meus verbetes… aí vem o Paulo, indigesto, acocorar o que eu escrevi, acerbar e depois partir… foi isso o que ele fez. Deveria castigá-lo, não deixa-lo mais ler, nada, nada mais do que eu escrevo. Aí ele ia ver como é difícil explicar. A palavra é miudeza, mas é grande na frase, pedaço, parte, parte… Nada mais é devaneio. Está no papel, não nas ideias, está em folhas soltas, não nas dobras do meu travesseiro.
Incomodado já estou, e isso não vai mudar. Eu fico pensando o que fazer, qual resposta dar? Não para o Paulo, mas para mim, sobre esse negócio de criar… “Do que eu escrevo?”. Posso escrever sobre hoje, talvez o amanhã, eu sobre você, você sobre você… quem sabe? Eu encontro um papel em branco e me ponho a escrever… Aí vem um infeliz e pergunta “do que está a escrever?”. Chapéu para duas cabeças… Isso é que é… Meus textos escondem meus olhos, revelados nos verbos, na ausência do espaço, exata melodia… Encontro os olhos de quem quer ler… Escrevo sobre o que vejo… Leitor incapaz de entender… Não me pergunte quais os motivos… o motivo é que alguém vai ler… Meus textos não são meus…
Pe, tenho escrito apenas para mim, não em papéis, mas apenas na minha mente, para meu chuveiro, para meu travesseiro, para minhas lágrimas...talvez seja uma fase e espero que ela passe, enqto não passar preciso ser forte, preciso ser EU !!!
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