sexta-feira, 21 de março de 2014

Certidão

Certidão
Cresci em um lar com muitas janelas, de muitas salas, de muitos livros. Cresci em um quarto com muitos amigos, alguns que só eu conseguia enxergar. Cresci sabendo brincar. Foram os meus irmãos e primos que fizeram isso comigo, e não dá jeito de mudar.
Cresci em um ventre de mãos afáveis, de cheiros agradáveis, de Bias, Betes e Marias. Cresci poesia e deixei de ser apenas travessão. Virei texto, virei livro, virei interrogação. E me pus vivo quando me enxerguei imensidão. A imensidão dos meus sonhos, dos versos que carrego comigo, da imensa vontade de que eles cheguem até as suas mãos. Para que você seja comigo, parte intrínseca dessa certidão.
E então lavrei no tempo-rei a certeza de que ninguém nasce sozinho. Ninguém cresce na solidão.

3 comentários:

  1. Este texto me tocou porque, por todos os lados, sinto que a fé nos homens, tão presente nas suas palavras, tem sido perdida. E então eu me pergunto, como pensar na construção de uma sociedade mais justa e igualitária se nós não nos vemos como iguais, se os altos objetivos da vida estão alicerçados justamente em afirmar nossas diferenças? Não que um dia isto tenha sido diferente, mas é que olhando a vida vivida, a sensação que fica é que entramos por um caminho, nos perdemos e não sabemos mais voltar. É como se as palavras deste poema, as cenas dos filmes e das peças, as páginas dos livros e os sonhos teimassem em ficar no ventre da arte ou do coração, e por medo, por lei ou por falta de condições, não conseguisse nascer. Não gosto de sentir isso.

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    1. Querido André, acho que não preciso nem dizer que muito do que aqui está escrito é fruto de angústias bem parecidas com as suas. Talvez sejam as suas, as nossas. Fiquei na dúvida entre "Certidão" e "Convite".

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    2. Lendo seu texto tive vontade de te contar sobre um grupo que tive o prazer de conhecer nesta semana. Acho que comentei com você que apresentaremos Iepe dentro de um ônibus no terminal Pq Dom Pedro, a convite de um grupo chamado Trupe Sinhá Zózima. Eles são formados pela Fundação também. Há cerca de 7 anos eles trabalham na pesquisa de encenação num ônibus itinerante e a escolha deste terminal não foi à toa, a proposta é levar teatro para um público que não tem acesso a ele, para gente que não consumirá nada do grupo, nem aparecerá na nobre mídia que gera fama e mais possibilidades de arrecadação. Os caras são gente simples, sem nenhum cartaz, que fazem teatro puramente por amor. Diante da retirada de parte do apoio da SPtrans eles tiveram de financiar a compra do ônibus, num ato de heroísmo. Agora estão tentando apoio para aprovar uma lei que abre os terminais públicos para intervenções artísticas. Um trabalho de pura ideologia e utopismo, sem NENHUMA perspectiva de retorno econômico, valores absolutamente rechaçados em TODOS os meios. O que essa história tem a ver com o seu CERTIDÃO? A fé nos homens. Lindo!

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