quinta-feira, 21 de março de 2013

Escritor das coisas do mundo


Escritor das coisas do mundo
- E esses papéis ai? Quem foi que te deu?
- Eu os encontrei no meio de tantos outros. Quem os deixou lá, eu não sei. E eles pediram colo. E eu dei.
- Você personifica papéis e acha que eles falam também?
- Mas a língua não é a escrita, em uma porção de possibilidades de verbos e sujeitos? Nós somos a rima de uma oração com inúmeros futuros, presentes e pretéritos, perfeitos e imperfeitos! Vamos sem estar, olhamos sem enxergar. Escrevemos sem querer. É isso o que a professora pediu para eu fazer.
- Ler fingindo ser você?
- E existe outra forma de ser... Quer dizer, de ler?
- Mas cabe a interpretação, onde os olhos do leitor são diferentes das mãos de quem se pôs a escrever...
- E você não se julga coautor da canção que tanto gosta de ouvir?
Somos nossas letras e as letras da multidão.
- Começo a perceber que você é toda essa papelada esparramada pelo chão!
- Sou. E sou a caixa de correio da minha cabeça. E a minha cabeça é uma porção de outras cabeças, de ruas estreitas, avenidas e viadutos. Sou escritor das coisas do mundo. Escritor com muitas mãos...

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