quarta-feira, 27 de março de 2013

Somos assim


Somos assim
Com uma mão você entrega
E com a outra logo tira
E a poesia está
Na ingenuidade de quem acreditou
Entre muros e janelas
Idas e vindas
Eis a vida
Ninguém te contou?

E logo você congratula
Para depois execrar
Quando fecham a cortina
Você não demora a desfilar
Toda uma coleção de impropérios
Que ninguém jamais imaginou
Entre apertos de mãos e bom dia
Eis a vida
Somos assim
Ninguém te contou?

quinta-feira, 21 de março de 2013

Escritor das coisas do mundo


Escritor das coisas do mundo
- E esses papéis ai? Quem foi que te deu?
- Eu os encontrei no meio de tantos outros. Quem os deixou lá, eu não sei. E eles pediram colo. E eu dei.
- Você personifica papéis e acha que eles falam também?
- Mas a língua não é a escrita, em uma porção de possibilidades de verbos e sujeitos? Nós somos a rima de uma oração com inúmeros futuros, presentes e pretéritos, perfeitos e imperfeitos! Vamos sem estar, olhamos sem enxergar. Escrevemos sem querer. É isso o que a professora pediu para eu fazer.
- Ler fingindo ser você?
- E existe outra forma de ser... Quer dizer, de ler?
- Mas cabe a interpretação, onde os olhos do leitor são diferentes das mãos de quem se pôs a escrever...
- E você não se julga coautor da canção que tanto gosta de ouvir?
Somos nossas letras e as letras da multidão.
- Começo a perceber que você é toda essa papelada esparramada pelo chão!
- Sou. E sou a caixa de correio da minha cabeça. E a minha cabeça é uma porção de outras cabeças, de ruas estreitas, avenidas e viadutos. Sou escritor das coisas do mundo. Escritor com muitas mãos...

Quando eu volto a escrever


Quando eu volto a escrever
É como se fosse um suspiro
Da cabeça que deu um mergulho
E voltou
É quando eu me retiro
E apesar de você me ver
Não estou
Dia onde encontro outros amigos
Dias onde consigo
Virar meus olhos
E ver o que ninguém notou

sexta-feira, 15 de março de 2013

No jardim


No jardim
O destino é agricultor
Nas asas de pássaros
Abelhas e borboletas
Verdeando este planeta
Quando o inseto mergulha
Pelo estilete da flor
E se perde
Diante de tanta cor

Talvez seja Deus
Plantando no planeta
Fazendo então germinar
Em um desfile de anteras e estigmas
No receptáculo poético da vida
Onde as asas levam e trazem
O pólen sagrado de todos os dias
Onde o verso
Encontra a rima


quinta-feira, 14 de março de 2013

Linha solta


Linha solta
Faço jus à ideia
De que nada ficará solto
E sem razão
Eu coleciono palavras
Na interminável experiência da criação
E os pontos finais
Não encerram
Nem quando eu risco o último refrão
É como se eu desse
Linha para pipa subir
Até ser pontinho nenhum na imensidão

terça-feira, 12 de março de 2013

No rancho


No rancho
Para o meu avô, que me lê de algum lugar. Isso eu sei.
Na beira do rio
Eu e meu avô
Sentados a pescar
Espichando a linha do tempo
Em uma prosa sem rumo
E nem hora para acabar
Piracicabaniando o dia
Na melodia da linha que estica
E o peixe puxa
Outro dia de prosa
E outras coisas para assuntar

sexta-feira, 8 de março de 2013

Seus olhinhos em mim


Seus olhinhos em mim
De vestido ou de saia
Na praia
Ou em qualquer lugar que você me convidar
Será tão luminoso
Que até o Sol irá se curvar
E tão vivo e gostoso
Que a gente vai torcer para não acabar
Você alumia e incandesce
Quando se põe a me olhar

Conversando com Deus


Conversando com Deus
Seja através da voz dos pássaros
Ou do estrondo do trovão
Antecedido pela luz que abrilhanta
E rasga o céu com os raios
Seja quando eu seguro a sua mão
É Deus
Deve ser Ele falando
E ressonando forte na imensidão

Seja quando o vento bate forte
E zumbindo
Levanta as folhas do jardim
Ou mesmo quando você cerra os olhos
E sorri para mim
É Deus falando
Deve ser
E eu me encho de sonhos
Em um céu de fadinhas e querubins

quinta-feira, 7 de março de 2013

No túnel


No túnel
Não tenho nomes definidos
Quando pego o papel para escrever
Quero apenas
Ter unido o verbo
Com a vontade de dizer
As coisas que revolvem a cabeça
E me deixam parar
E perceber
A vida é um texto curto
E intenso
E a gente nem se dá conta de ler

quarta-feira, 6 de março de 2013

No próximo trem


No próximo trem
De um barulho
Que se achega e agiganta
E a vontade é tanta
Que vento nenhum vai levar
Enraíza como planta
Floresce e faz germinar
Chamando para a dança
No embrenho de ser
E amar
E a coisa fica tanta
Que nenhuma vontade
Consegue comportar
Que nem o tempo do mundo
Consegue apagar...

Olhando para cima


Olhando para cima
Um azul ponto no céu
É tão azul
Que outro ponto igual não tem
E a gente
É nuvem no carrossel
No nascer despertar
Morrer
E ir além

Eu e tantos outros
Deslizando no tempo vida
No sopro do vento e da brisa
Entre nascer navegar
E morrer naufragar
Para ir além


















Imagem extraída do sítio http://pensamentosnegritados.blogspot.com.br/

segunda-feira, 4 de março de 2013

Café para um


Café para um
Quando a luz da sala
Ficar acessa
E já estiver sobre a mesa
O livro que você me presenteou
Eu,
sem pressa
Saberei depressa
Que você não se esqueceu
Das horas em que discutimos
Muitas formas de dizer que não acabou

sexta-feira, 1 de março de 2013

Os primeiros raios


Os primeiros raios
Um balé de pássaros sobre os telhados
O barulho do trem que se aproxima
O céu ficando vermelho-azulado
A multidão dobrando a esquina
São os primeiros raios de Sol
De um dia que é manhã ainda
Onde o estar só
É como se despedir
Como a última estrela que brilha
O aquecer ante a noite fria










Foto extraída do sítio http://www.flickr.com/photos/gildatonello/8264954530/