quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Vovó me visitando

Vovó me visitando
É quando eu escuto música bonita
Quando pego um papel
E saio desenhando
Quando a sorte me cutuca
Quando meu pai está me abraçando
DaÍ, eu grito
Grito bem alto
"Sunta, você está me visitando!!!"

É quando eu sinto a palavra
Vir antes da ideia
A alegria ser sincera
O amor, fraternal
Daí, eu proclamo
Em uma alegria sem igual
"Vovó, você veio me ver
Que legal!!!"

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Avoar

Avoar
Ô passarinho ligeiro
Que na minha mão quer parar
Sun´cê deve se chamar é Vento
Que o tempo traz
E nos faz largar
Ou se chama Vida
Essa vida que o tempo insiste em nos tirar

Ô cantador de verso e prosa
Vê se me remoça
Pra mais tempo eu ficar
Andam me dando quarenta
A cabeça a branquear
Mal sabem que os meus fios são avoadeiros
Caem para eu estar em todo e qualquer lugar...

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Nas lentes do tempo

Nas lentes do tempo
Foi ao acaso
Como diz Sêneca
Que a vida traçou seu destino
Esse acaso da vida
Nos dedos de um menino

Foi ao acaso
O acaso da vida
Que eu te registrei
Antes da partida
Os olhinhos fechados
Transcendendo ternura

Foi mesmo sem querer
Mas querendo muito que fosse assim
Você sendo você
Uma das pessoas mais importantes para mim
Os olhos brilhando
Na imensidão das nossas aventuras

Ao encostar dos rostos
O gosto de saber que eu curti você
Meu verbo no infinitivo
Te conjuguei
Antes de você partir
Muito antes de eu querer...

Unhas pintadas

Unhas pintadas
A Lê e a Patchó pintam suas unhas
Enquanto Papai do Céu chama você
Minha Estrela Única
Meu desejo de ser

O Rafa diz "minha vovó querida"
E nós em comunhão
Cantamos a sua volta
Expandimo-nos na imensidão

Minha forma de amor
Minha inspiração
Agora em Bia, Bete, Márcia, Marias, Luiz e Soninha
Você sempre será o meu melhor refrão...

Assuntando comigo

Assuntando comigo
Ouvir uma moda de viola caipira
Colocar o seu molho de pimenta
Em qualquer prato que eu for degustar
Experimentar olhar nos olhos da minha mãe
Me emocionar!

No sítio com meu pai passear
Lembrar da alegria da tia Bete
E daqueles que sempre vão chegar
Do amor que nos une e fortalece
Escrever para passar
Saber esperar

É assim vovó
Que eu dou conta dessa saudade matadeira
Que se achega
E não quer me largar...

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Bonequinhos de papel

Bonequinhos de papel
toda a criança cria para agigantar o mundo
Quando a gota da chuva é um oceano
Quando o dia vira um ano
Quando o vento é tempestade

Quando a dor traz a saudade
De um tempo de meninices
No ventre e nas crendices
Do bater do coração de uma mãe

Quando a manhã primeira se desnuda
Quando se encontra a cura
Quando a partida não anuncia a chegada
Quando o tempo traz a saudade

São essas dores da maioridade
Em uma cabeça mingau de chocolate
Onde a mentira também pode ser verdade
A desfilar credulidades
E se transformar em eternidade

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Mês de Maio

Mês de Maio
Deixo os sentidos falarem por mim
Hoje o silêncio é prece
E que ninguém despreze
O que eu peço ao Pai

Caso contrário minha caneta seca
A palavra não sai
Fica choca a descoberta
O desalento é demais

Peço, Pai querido
Como se fosse meu primeiro e último pedido
Para que no ano que vem
Tenha mais bolo e vela
Em uma reunião de queridos
A abraçar a própria história

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Ceifeiro

Ceifeiro
O homem é o vaso da palavra
Não apenas quem ouve
Mas também quem fala
Porque a palavra é rara
Se tomada em seu silêncio

Seja porque as vezes falamos para o mundo
Seja porque as vezes falamos para dentro
No silêncio da folha quarto
Antes da cabeça ter seu parto
A palavra germina
Não precisa ter rima
Se adubada com vigor

Eu sou agricultor desse campo a perder de vista
O exercício da escrita
Me faz sair de mim
Ser vaso de tantos outros
Na sutileza de ser assim...